Coringa

Muito longe de ser uma aventura, “Coringa” é um drama visceral! Há tanta brutalidade em cena que fica impossível se manter apático ao longo da projeção. Mas, ao contrário do que se pode pensar, a brutalidade não está nas matanças do nosso vilão de Gotham, e sim, no que foi feito a ele. O diretor Todd Phillips (Se Beber Não Case), usa o Coringa para nos propor uma reflexão sobre como a sociedade e o meio em que vive podem criar um louco. Não há aqui a tentativa de justificar atos de barbárie de um psicopata, mas sim, de dialogar com o publico mostrando que nós podemos criar monstros por conta de nossa indiferença para com o outro, egoísmo ou comportamento cruel.

Sinopse: “Arthur Fleck (Joaquin Phoenix) trabalha como palhaço para uma agência de talentos e, toda semana, precisa comparecer a uma agente social, devido aos seus conhecidos problemas mentais. Após ser demitido, Fleck reage mal à gozação de três homens em pleno metrô e os mata. Os assassinatos iniciam um movimento popular contra a elite de Gotham City, da qual Thomas Wayne (Brett Cullen) é seu maior representante.”

Joaquin Phoenix (“Ela”) vem em brilhante atuação, fazer o que parecia impossível, trazer um Coringa tão intenso quanto o do saudoso Ledger (“Batman: O Cavaleiro das Trevas”). Temos um trabalho em cena digno de Oscar. Inicialmente já nos remete a Chaplin e ao personagem “Pierrot”. O palhaço que é triste, sofre e desperta risadas. Já nas primeiras cenas somos apresentados a tanta melancolia e a violência injustificada para com o protagonista, que mesmo sabendo que no futuro ele será um dos maiores vilões assassinos, só conseguimos sentir pena dele. Uma das cenas de abertura já nos diz sobre o que será a história narrada. Este excelente trabalho de Phoenix, não seria possível sem o diretor, que vem mostrar seu talento saindo totalmente de sua zona de conforto, a comédia.

Ao final dos créditos, saímos do cinema com uma pergunta em mente: Mesmo tendo uma doença psiquiátrica forte. Será que com o tratamento correto e com maior dedicação das pessoas a sua volta a história teria sido diferente?

No fim, como sempre, é feito um paralelo entre Coringa e Batman. Idades diferentes, criação diferente mas que tem suas vidas mudadas a partir de determinadas injustiças cometidas pelo povo de Gotham. Ambos são dois lados de uma mesma moeda (mesmo que isso não seja desenvolvido neste filme), forças iguais e opositoras. Coringa poderia ter usado o que sofreu de outra forma, poderia ter sido bom, ao invés disso, quer causar o caos e anarquia como vingança e forma de se libertar das amarras de ser um louco que tenta se enquadrar a sociedade. Já Bruce, tem sua vida perfeita alterada ao ter seus pais assassinados em um beco, mas como nós sabemos, usa seu sofrimento em prol de ajudar o mundo, tornando-se um herói. Acredito que os fãs mais xiitas do morcego não irão gostar da forma como seu pai é retratado.

Com uma fotografia feita quase toda em tons avermelhados e esverdeados, vemos uma versão nova de surgimento do vilão, – já que cada filme em que aparece conta uma versão diferente-. Qual é a mais parecida com a criada nos quadrinhos não importa. O importante é ser plausível e nos fazer imergir no longa. Há uma escolha acertadíssima na trilha sonora, temos musicas de Frank Sinatra em vários momentos que parecem feitas para narrar a história. Fique até o final dos créditos!