Warrior Nun

Cá entre nós, uma temática de freiras guerreiras não é lá um grande chamativo para o povo. A primeira reação de todos é: “como assim? Isso deve ser muito ruim”. A melhor forma de fazer isso dar certo seria abraçando a estranheza, aceitando o brega e tacar exploitation(*) à moda Tarantino na tela, com muito sangue e situações absurdas beirando a comicidade. No meu ver, essa era a solução ideal, mas o que vi foi uma série se levando muito a sério e demorando demais para se desenvolver a história principal.

Sinopse: “Em Warrior Nun, a jovem Ava (Alba Baptista) acorda num necrotério e descobre um artefato divino instalado em suas costas. Ela logo se dá conta de que não é a única pessoa com essa marca: existe um grupo de freiras e padres responsável por combater os demônios que assolam a Terra. Ava se torna parte da ordem e, ao lado de seus poderosos membros, precisa deter uma mulher que criou um portal para o céu.”

Achei os 10 primeiros minutos bem promissores, o que me fez ficar bem animado, mas logo esse sentimento foi se esvaindo. Eu não consegui gostar do jeito da nossa protagonista, Ava. Uma personagem que faz piada com tudo chega a irritar. Na literatura em geral, durante o “chamado do herói” sempre acontece a negação da aventura. O herói nunca aceita de primeira o seu destino, ele nega para depois notar que sem ele nada dará certo. Até aí normal, o grande problema é demorar 7 episódios para ela entender isso. Isso deixou tudo muito maçante, chato e repetitivo, quase me fazendo desistir.

Ela não é de toda ruim, tem seus momentos bons. Uma pena que esses momentos são reservados mais para o final. Quando vemos coisas realmente legais acontecendo e quando notamos a história ir para a frente sem enrolação, ela acaba. E isso me irritou, pois foi quando eu realmente me empolguei. Temos um plot twist no último episódio que é muito bom (mas previsível). Senti que ela foi alongada apenas para sentirmos mais essa reviravolta, mas senti que tudo o que foi mostrado em 10 episódios, poderia ter sido mostrada em 5. Dessa forma, tendo mais história e menos enrolação.

Outra coisa que me incomoda em várias obras por aí é a falta de um contato com o mundo real. Por exemplo, em vários momentos as freiras saem de dia com espadas nas costas e o mundo finge que não viu ou que aparenta ser algo normal. No mundo real, no mínimo alguém apontaria para seu amigo e diria “olha lá, uma freira guerreira”. No mínimo, porque hoje em dia teria fotos e vídeos em segundos na Internet. Isso porque estamos falando de uma ordem secreta de pelo menos 1000 anos

Tirando a personagem principal da qual não consegui ter tanta empatia, as outras freiras guerreiras são bem legais.

  • Beatrice → minha preferida, quieta, devota a Deus e a melhor guerreira que você quer ver dando murros por aí. No meu entender, ficou meio perdido se ela é lésbica, por causa de uma passagem que ela lê. Pode ser devaneios da minha cabeça (ou não).
  • Shotgun Mary → olha esse nome, eu veria facilmente um filme com esse título dirigido por Quentin Tarantino. A promessa com esse nome era grande.
  • Camila → a novata fofa e mortal. Não temos uma grande background dela, mas não difícil gostar dela.
  • Lilith → é a que tem tudo para ser a vilã desde o início e com um propósito diretamente ligado a trama, mas que no final conseguimos entender qual o lado real dela
  • Padre Vincent → não é freira, mas é o líder delas. Sabemos que ele tem um passado obscuro, deixando ele como um personagem bem interessante.

Até o momento que escrevo essa resenha, uma 2º temporada ainda não foi aprovada. Espero que confirmem e que ela venha melhor. Entendendo os erros e colocando ela mais ágil, certamente será mais agradável vê-la sem o público se irritar, assim como eu. Potencial para ser boa, ela tem, basta acertarem o tom. A série se encontra no catálogo da Netflix.

* Exploitation → é um gênero de filmes apelativos, que aborda de modo mórbido e sensacionalista a temática que trata. O termo pode ser traduzido como cinema apelativo.

Curiosidades e algumas dúvidas levantadas para quem já viu a série:

  • Existe todo um subgênero chamado Nunsploitation, que consiste em filmes com freiras cristãs resolvendo conflitos de natureza religiosa ou sexual, contendo, geralmente, críticas contra a religião em geral e à Igreja Católica em particular.
  • Qual a importância do filho da Jillia Salvius para a história? Ele passou naquele portal e aí?