Triângulo da Tristeza

‘Triângulo da Tristeza’ certamente é um filme que chega aos cinemas com força nas premiações. Ele foi o último vencedor da Palma de Ouro em Cannes e recebeu indicação de Melhor Filme no Globo de Ouro. Além disso, foi indicado a 3 Oscars, entre eles: na categoria de Melhor FilmeMelhor Direção e Melhor Roteiro Original. Os dois últimos são responsabilidades de Ruben Östlund. Ele que é famoso pelo filme The Square (2017). Com esse currículo, vê-lo já se torna uma obrigação. Contudo, deve ficar o aviso que ele não é tão fácil de ser digerido.

Sinopse: “A história começa acompanhando os jovens modelos Carl (Harris Dickinson) e Yaya (Charlbi Dean), que estão navegando pelo mundo fashionista enquanto tentam se tornar influencers. Eles ganham passagens para viajar num cruzeiro de luxo, sendo os únicos passageiros classe média num grupo de milionários. Porém, uma noite de tormenta e ataques de piratas fazem o navio naufragar, deixando os sobreviventes presos numa ilha deserta.”

Esse filme é longo (2h 27min) e possui três arcos bem definidos que são caracterizados como capítulos. O primeiro e o mais curto, mostra a relação de nossos dois protagonistas, Carl e Yaya, funcionando como um casal e como eles são meio caóticos por terem uma visão da vida um pouco diferente um do outro.

O segundo capítulo que se passa dentro de um iate super luxuoso é a cereja do bolo ao meu ver. Ele nos traz um humor bem cínico e ácido para nos mostrar as excentricidades de pessoas extremamente ricas que acham que podem fazer o que querem, apenas por terem dinheiro. Quando somos apresentados a todos é que vem o ápice dele, iniciando no jantar do Comandante. Ele escalona muito rápido e certamente vai te arrancar risadas devido a como chegaram no ponto da loucura total. Certamente, esse é o grande ponto alto da obra e teria sido perfeito acabar por aí.

O terceiro momento do longa nos mostra todos vivendo como iguais presos em uma ilha deserta. Não há dinheiro, não há patentes e quem manda agora é quem sabe agir mais nessa situação de naufrágio. A inversão de poder ocorre, e ver a ascensão de um matriarcado torna o longa em uma grande discussão de classe. Esse detalhe chega a níveis tão grandes que culmina em um momento catártico que infelizmente nos priva do resultado final.

Esse é o segundo filme que vejo do diretor Ruben Östlund. O outro seria The Square. O que pude notar é que nos dois existe essa crítica do que é excentricamente aceitável ou não. A bizarrice do ser humano por muitas vezes é aceita justamente pelo poder. Aqui, ele explora isso de um modo muito divertido ao mesmo tempo que você não consegue acreditar nas coisas que está vendo em tela. A escatologia chega ao mesmo tempo que perdemos o controle do que estamos vendo. Por esse lado, posso dizer que esse filme é genial. Porém, pensando de uma forma mais mercadológica, vejo que vá perder o público, justamente por usar de uma linguagem nada ortodoxa para contar uma história.

A presença dele em premiações se faz muito justa. Em muitos momentos achei ele estranho, mas tudo se faz mais claro no decorrer da projeção. Me fez sair da sala de cinema pensando nele e considero isso sempre algo bom. Refleti sobre desde então e a cada minuto sinto que gostei dele mais do que achei que tinha gostado. Recomendo ele muito mais para quem tem um gosto mais apurado por cinema, pois certamente ele não irá cair no gosto popular.