Os Primeiros Soldados

É muito difícil nos dias de hoje eu me deparar com um filme que eu não saiba absolutamente nada dele. Nesse caso, falo mais por mim mesmo, pois para escrever essas resenhas fico bem antenado com as novidades que serão lançadas. Ou já vi um trailer, ou já li algo sobre o longa em alguma notícia por aí. É impossível eu também saber de tudo e foi com muito prazer que cheguei a ‘Os Primeiros Soldados’ sem saber absolutamente nada sobre ele. Descobrir sobre o que ele é na hora em que eu estava assistindo, aumentou a importância da história em si para mim.

Sinopse: “Em Vitória, na virada de 1983, um grupo de jovens LGBTQIA+ celebra o réveillon sem ideia do que se avizinha. O biólogo Suzano sabe que algo de muito terrível começa a transtornar seu corpo. O desespero diante da falta de informação e do futuro incerto aproxima Suzano da artista transexual Rose e do videomaker Humberto, igualmente doentes. Juntos eles tentarão sobreviver à primeira onda da epidemia de AIDS.

A falta de saber sobre o que se tratava me fez o ver de uma forma meio pedante no início. Do tipo “hum, vamos ver do que ele se trata e se vai me agradar”. Posso dizer que não gostei do seu 1º ato. Ele nos mostra alguns personagens que até onde eu estava vendo, não estava levando a nada. Apenas pessoas comuns curtindo uma festa de Revéillon normal, mas eu realmente não estava preparado para a história que ele iria contar a partir daí. Isso me quebrou e me fez olhar para ele de uma forma muito diferente após a passagem de tempo que ocorre na projeção.

Ele, basicamente falando, nos conta a história das primeiras pessoas vítimas da AIDS no Brasil. Em 1983 a primeira onda da doença chegou e com a falta de informações sobre ela, um certo terror foi formado. Não é para menos. Essa falta de informação é tão chocante que chegamos ao fato de que uma pessoa que acabou de morrer da doença fique trancada em uma sala sem ter tido nenhum médico ou legista para examinar o corpo e dar o laudo da morte.

A partir do momento que entendemos sobre o que ele se trata, nos é mostrado um pouco em formato de flashback como os nossos “soldados” lidaram com a doença tendo poucas informações sobre o assunto. Eles mesmos tentam pesquisar sobre ela a ponto de tentarem se salvar. Esse percurso é dolorido para quem vê e pesado para os personagens que estão vivendo isso. É triste e, mesmo assim o bom humor é levado em alguns momentos para mostrar que a vida tem que ser vivida plenamente.

O elenco é muito bom, mas tenho que destacar dois nomes que realmente me impressionaram. O ator Johhny Massaro (O Filme da Minha Vida) nos dá uma interpretação serena e muito emotiva. Eu certamente não vi todos os trabalhos de sua vida, mas aposto alto que esse aqui seja uma das melhores interpretações dele por aí. O outro destaque é para atriz Renata Carvalho que ao meu ver consegue ser ainda melhor mesmo sendo uma coadjuvante. Ela arrebenta em todas as cenas e é impossível piscar o olho com ela em cena. Brilhante.

O longa já ganhou vários prêmios em festivais pelo mundo todo e ele chega com a pompa de uma obra que deve ser vista. Ele não tem um dinamismo de um filme mercadológico, mas acho de suma importância ser assistido. Ele acaba sendo um relato com tentativa e erro das primeiras pessoas que combateram essa doença terrível que graças a ciência de hoje em dia, é possível viver de forma normal. Mesmo que a pessoa viva com a presença do vírus em seu corpo. Muitos morreram para que muitos vivam bem hoje. Por isso, o título do filme é emblemático e poderoso no fim das contas.