O Sabor da Vida

O Sabor da Vida entrou no meu radar desde que foi um dos destaques do Festival de Cannes de 2023. Saiu de lá com o Prêmio de Melhor Direção para Anh Hung Tran (O Cheio do Papaia Verde). Apesar de ser vietnamita, esse filme é uma produção da França e também foi o grande escolhido para representar o cinema francês no Oscar. Infelizmente, não chegou na cerimônia, mas já adianto que essa obra é uma das coisas mais belas, amorosas e simples que vi em um bom tempo.

Sinopse: “Nessa singela história conhecemos Eugénie (Juliette Binoche) e Dodin Bouffant (Benoît Magimel). Ela é uma excelente cozinheira que trabalha para Dodin, e ele é um importante gourmet da região. O trabalho e o amor pelas comidas fizeram com que se apaixonassem, mas apesar disso não são casados, mesmo que esse seja um dos maiores desejos de Dodin. Quando uma súbita e desconhecida doença começa a afetar Eugênie, Dodin percebe que precisa tratá-la com mais atenção, passando assim a cozinhar para ela.”

Essa foi a melhor sinopse que pude criar, mas pensando bem, ele nem tem uma grande história narrativa linear. Diria mais que estamos diante de uma obra sensorial que só faltou sentir o cheiro daquelas delícias todas que vemos em tela. Os seus primeiros 20 minutos são praticamente sem diálogos e mostrando essas pessoas cozinhando um banquete para um grupo pequeno de amigos. É tudo tão bonito e tudo parece tão apetitoso que eu quis morar nesse longa por esses breves minutos. Inclusive, se ele fosse um vídeo gigante de ASMR, veria feliz. Poderia até acabar após o término desse banquete que é absolutamente lindo e genial.

Quem viu algum programa culinário como masterchef ou algum do tipo vai entendê-lo muito melhor. As explicações de harmonia são perfeitas e até mesmo explicando comidas com base na ciência deixa a experiência toda maior do que é. A alto gastronomia francesa realmente é um desfrute do belo e delicioso e isso antagoniza com a ideia final do chef Dodin, que é simplesmente fazer um pot au feu (que não por acaso é o título original, The Pout Au Feu), um tradicional prato francês que consiste de um guisado de carne temperado com ervas. Algo simples demais para um gourmet como ele, mas ele quer provar que algo simples pode ser mais poderoso do que algo pomposo para impressionar qualquer um.

Tudo sobre gastronomia nele encanta, mas o amor de nossos protagonistas também é bem bonito de se observar. Não são um casal normal, e certamente a relação deles é quase toda profissional e de respeito um pelo outro, sobrando aquele espacinho para se curtirem como deve ser. Toda essa relação é simples e apaixonante. O amor que eles nutrem um pelo outro acaba sendo idealizado na forma da comida e da natureza ao seu redor. Quando Dodin percebe de verdade o quanto a ama, ele passa a cozinhar para a sua musa.

Resumindo, O Sabor da Vida é um filme que nos mostra as coisas prazerosas da vida. Não temos uma grande história de amor, é tudo muito sensorial, mas tudo de uma perfeição ímpar. Vale deixar a curiosidade de que Juliette Binoche e Benoît Magimel já foram casados de verdade. Isso pode explicar a química entre eles que soa bem perfeita. Dá para notar o respeito de só se admirarem e se amarem pelo olhar.