O Alfaiate

O Alfaiate é aquele típico filme que você não espera nada e, mesmo assim, recebe tudo. Já adiantando um pouco minha opinião sobre ele, posso dizer que foi uma grata surpresa completamente inesperada. Mesmo que possuísse nomes grandes na produção, não me parecia que seria uma obra relevante o suficiente para vir aqui e falar bem. Não é perfeito, possui seus defeitos que também colocarei abaixo, mas adianto que é um título que vai agradar o amante de um bom texto junto com algumas reviravoltas.

Sinopse: “Leonard (Mark Rylance) é um alfaiate inglês que costumava fazer ternos na mundialmente famosa Savile Row de Londres. Depois de uma tragédia pessoal, acabou em Chicago, operando uma pequena alfaiataria em uma parte barra pesada da cidade, onde faz roupas bonitas para as únicas pessoas ao redor que podem pagá-las: uma família de gangstêrs cruéis”.

O longa começa bem devagar mostrando o dia a dia de trabalho de um alfaiate, no caso, o cotidiano de Leonard, ao mesmo tempo em que a máfia está presente na vida dele mais do que gostaria. Nesse primeiro momento conhecemos um pouco a personalidade de cada personagem para que logo mais essas características se sobressaiam e compremos tudo o que irá acontecer. O filme possui apenas um cenário, que é a alfaiataria de Leonard, e isso faz lembrar demais uma peça de teatro. Ele poderia ser facilmente adaptado para tal. Esse único lugar pode causar uma certa monotonia na pessoa mais ansiosa, mas é perfeita para o que se propõem.

Depois desse primeiro ato introdutório é que começa a história de verdade. Uma noite fatídica está por vir e talvez Leonard esteja mais preparado do que poderíamos imaginar. É a partir daí que começamos a notar e genialidade do roteiro. Acontece uma sucessão de situações e nenhuma delas é boa. No meio a esse caos, notamos que o alfaiate do título não é tão bobo e ingênuo como pensávamos e a lábia dele praticamente move montanhas. Esse movimento faz com que Francis (johnny Flynn) se torne um vilão natural e único capaz de bater de frente com nosso herói improvável.

Nesse ponto é que temos uma possível falha do roteiro que simplesmente é contornada pelo acaso. Leonard constantemente tenta fazer a cabeça de seus algozes, mas a máfia não é burra e por mais que o alfaiate saiba como manipulá-los, está sempre uma palavra de se entregar. Por diversos momentos isso acontece e mostra um plano altamente falho de nosso protagonista. Se não fosse o acaso e as coincidências do roteiro, tudo teria se perdido. Esse detalhe não é algo necessariamente ruim, mas se complica um pouco quando pensamos no todo da situação imposta a força dentro dessa loja.

O Alfaiate é um bom filme que começa devagar e nos surpreende conforme a trama vai andando. Reviravoltas surgem o tempo todo e somos agraciados com um ótimo desfecho que não estava programado pelo nosso protagonista. Mark Rylance (Ponte dos Espiões) é um ótimo ator e ver todo o seu jeito inglês polido de ser nos dá uma certa impressão de cordialidade. Seu personagem é bem escrito e no decorrer da projeção notamos quantas camadas ele possui. Gostaria até mesmo de saber mais dele. Caberia facilmente uma continuação aqui se quisessem, mas é bom que essa história tenha um ponto final. Dessa forma ficamos com um final satisfatório.