Matrix Resurrections

Quem viveu o fim dos anos 90 sabe como foi grande o sucesso que Matrix fez ao chegar nos cinemas. Não tínhamos a Internet como temos hoje. A maioria das informações que conseguíamos sobre os filmes era por meio de revistas mensais ou pelo Fantástico que sempre trazia reportagem com os atores. Lembro que fui vê-lo no cinema apenas com as imagens dos comercias na cabeça, e digo que eu não estava preparado para isso. Minha cabeça explodiu e foi uma das melhores coisas que vi na vida. Matrix Resurrections tenta trazer essa sensação de volta, mas para nas intermináveis autorreferências.

Sinopse: “Em um mundo de duas realidades – a vida cotidiana e o que está por trás dela – Thomas Anderson terá que escolher seguir o coelho branco mais uma vez. A escolha, embora seja uma ilusão, ainda é a única maneira de entrar ou sair da Matrix, que é mais forte, mais segura e mais perigosa do que nunca.”

O filme começa muito bem. Rola toda aquela confusão que te faz se perguntar o que está acontecendo ali e rapidamente já estamos imersos na história e entendendo que após 20 anos da trilogia original, a tecnologia mudou bastante. A metalinguagem vira um recurso muito forte e começa uma cachoeira de autorreferência na história. A brincadeira que a Warner Bros quer um Matrix 4 se faz presente (não como imagina) e nos faz rir de uma forma emocionante. O problema disso tudo é que essas autorreferências não param e ficam o tempo todo nos mostrando cenas do passado para nós entendermos todos os paralelos.

A volta de Neo, Trinity e Morpheus faz um sentido grande para a história. Não foi a toa e nem forçado, quer dizer, de acordo com a história planejada. Temos a volta de alguns personagens famosos da franquia, e alguns outros personagens conhecidos com uma roupagem nova. O grande algoz da trilogia original está de volta, mas não como você imagina também. Só tenho pesar em dizer que apesar desse fan service aos fãs, nada empolga de verdade.

Nos primeiros 20 minutos de projeção me peguei ficando arrepiado várias vezes e no decorrer do que eu estava vendo essa sensação simplesmente sumiu e fiquei só esperando o que viria pela frente mesmo. Um ponto que me decepcionou também foram nas cenas de ação. Matrix de 1999 teve cenas muito mais incríveis do que vemos aqui, e estou falando de 22 anos atrás. As cenas de luta me pareceram engessadas e confusas e o uso exagerado do CGI me incomodou muito na sequência final.

Um grande ponto forte de Matrix é a parte filosófica. Ela também está presente aqui, mas de uma forma bem menor do que antes. Aquela grande conversa sobre destino e programação se faz presente, mas abriram outras portas. A grande questão envolvida aqui é que a escolha é uma ilusão. Você sempre soube o que quer de verdade, mas se engana por existir a possibilidade de uma outra opção. Isso é legal, interessante, mas não se torna crucial. No clímax isso retorna e acaba se tornando importante.

Algumas coisas precisam ser ditas sobre os novos personagens também. Muito potencial em todos, mas acabam se tornando rasos. Entre os destaques temos a Bugs, vivida por Jessica Henwick (Amor e Monstros) que seria a nova “Morpheus” no caso, mas que não consegue conquistar de verdade; temos o novo Morpheus, vivido por Yahya Abdul-Mateen II (A Lenda de Candyman) que é maravilhoso, mas totalmente subaproveitado; conhecemos O Analista, vivido por Neil Patrick Harris (Garota Exemplar), um personagem bom, mas que acabou caindo um pouco no caricato; e o nosso novo Agente Smith, vivido por Jonathan Groff (Hamilton), que começa muito bem e se perde na hora de emular o Hugo Weaving que era o Smith original.

Chego nesse final reiterando que ele não é ruim. Ele é divertido em muitos momentos, mas que se perdeu muito nessa tentativa de recriar o original. Um aviso que deixo é que é preciso sim ter visto a trilogia anterior. Quem não viu, vai ficar completamente perdido. Não existe nenhuma recapitulação e nem explicação sobre determinados momentos. É uma continuação direta mesmo. O irônico disso é que tanta referência se torna desnecessária, já que é preciso ter assistido todos os anteriores. Digamos também, que ele talvez seja o início de uma nova trilogia. Seu final deixa isso bem claro.