Indústria Americana

Indústria Americana foi o grande ganhador do Oscar de Melhor Documentário em 2020. Esse foi o motivo principal de tê-lo colocado na minha lista de filmes que teria que ver. Demorei (sempre demoro), mas vi. Na minha opinião, para ser um bom documentário ele tem que ter uma boa direção, ser ágil e ter uma história que você não saberia que seria tão boa assim. Por não ter um roteiro, qualquer coisa pode acontecer e isso é o que o torna tão fascinante. Não precisa ter todos esses requisitos, mas acredito que uma história boa é essencial. Sem notarmos, ele se transforma em algo maior do que prevíamos.

Sinopse: “Um bilionário chinês reabre uma fábrica e contrata dois mil operários dos EUA, mas o otimismo inicial não resiste ao conflito entre as mentalidades da China tecnológica e da mão de obra norte-americana.”

O que mais me chamou a atenção foi o tanto de camadas que esse documentário possui. São tantas que é capaz de não ter pego todas as suas nuances, mas fui capaz de perceber algumas. Entre elas temos o choque de cultura, o capitalismo, o explorado agora é o explorador e o sonho americano. Essas são apenas algumas só para citar e lógico não dá para falar sobre todas elas, mas tentarei condensá-las para ficar o mais entendível possível. É mais a ideia mesmo, pois só sentirá tudo vendo.

Tudo começa quando em 2008 uma fábrica da GM fecha e assim deixa muitos habitantes de uma cidade americana desempregada. Oito anos depois um empresário chinês resolve reabrir a fábrica contratando assim vários cidadãos americanos e lógico levando muitos trabalhadores chineses para o Novo Continente. A princípio tudo é lindo e tudo parece ser uma ótima ideia, mas as coisas começam a desandar quando ocorre o choque de culturas.

O chinês, ávido por trabalho, começa a achar os americanos preguiçosos pois não conseguem fazer as coisas como os próprios chineses. Isso fica muito claro quando visitamos a mesma fábrica na China e notamos o quão disciplinados são e como trabalham em turnos muito maiores que o normal sem mesmo ver a família por um longo período de tempo. O que eles acham normal, a outra cultura abomina e assim começa uma queda de braço pela busca de seus direitos e pela produtividade.

O capitalismo tão imposto pelos próprios estadunidenses é engolido pelos chineses se tornando algo muito maior do que os próprios americanos esperam. Ou você aceita ou é mandado embora por ser considerado inferior ou incompetente. O então país explorado acaba por explorar o grande explorador histórico. Isso também nos faz pensar que o modo de trabalho chinês beira a escravidão e que o trabalhador não tem voz. Um problema que poderia se resolver com a presença de um sindicato. Esse detalhe acaba virando uma guerra interna entre as duas culturas.

Não tenho como falar sobre tudo o que esse documentário aborda, mas fica minha dica para uma obra que sai do comum e aborda um tema corriqueiro, mas que não fazemos ideia de como acontece. Se não for fã de documentários, passe longe e se for um amante do estilo, por favor, veja. Ele tem muito a nos ensinar mesmo que não consigamos tirar uma conclusão muito concreta do que aconteceu. A vida simplesmente continua e nem sempre ela é feita de finais felizes.