Cem Escovadas Antes de Ir Dormir

Eu me lembro bem do ano de 2007, o auge da minha adolescência rebelde, do cabelo pintado de vermelho, da ideia de amor livre, de beber escondido, de idealizar um futuro onde todos os sonhos iriam se tornar realidade e tempo era coisa que demorava à passar. Lembro, também, de uma tarde no Bob’s onde me foi “repassado” o livro “Cem Escovadas Antes de Ir Para a Cama“. Eramos um grupo de meninas alternativas, algumas mais puxadas para o rock, outras mais puxadas pro hippie. Algumas gostavam de meninos, outras de meninas, algumas dos dois e algumas ainda não tinham experimentado nenhuma das duas vertentes. Um coisa, além da amizade, nos unia, o livro. Eu nem ao menos me lembro quem o comprou, só sei que todas nós lemos, uma por uma, e todas amaram pelos motivos mais diferentes.

Ao encontrar o filme “Cem Escovadas Antes de Dormir”, uma livre adaptação do livro pelo diretor Lucas Guadagnino – do polêmico e belo “Me Chama Pelo Seu Nome” – não pude conter minha empolgação e curiosidade. Pena que, ao assistí-lo, a empolgação foi virando decepção e a curiosidade uma certa monotonia.

As sinopses de ambas as obras já são completamente diferentes. As únicas coisas em comum, na minha opinião, são o nome da personagem principal e autora do livro, Melissa, e o fato de ambas as obras passarem longe do puritanismo e da caretice. Você pode até pensar que eu não amei o filme porque amei o livro, mas não é tão simples assim, tendo em vista que já me apaixonei por várias adaptações filmicas de livros que gostei (Grande Gatsby, Drácula, O Médico e o Monstro, A Lei da Noite, etc).

No livro de 2005, nós temos uma protagonista adolescente forte, talvez, até um pouco desmiolada, mas Melissa tem seus motivos. Ela faz questão das cem escovadas antes de dormir em seus longos cabelos, este é um ritual extremamente marcante e importante na obra literária. Ela também é obcecada por encontrar o amor e acredita que a melhor forma de encontrá-lo e experienciá-lo é através do ato sexual com praticamente todo homem que cruzar seu caminho. É basicamente isso, sem vitimização, ela deixa claro que essa escolha, por mais louca que possa parecer, é, sim, uma escolha e completamente dela.

Já no filme, temos uma protagonista claramente traumatizada que tenta se enganar. A parte das escovadas é mencionada duas vezes, nossa protagonista tem cabelos de médios à curtos, e há, também, um romance forçado, que pula etapas. Por mais genuíno que ele seja, se eu fosse a protagonista, ficaria até mesmo desconfiada.

Porém, apesar de todos os pesares, acredito, sim, que ele valha a pena ser assistido. Nem que seja para podermos observar o amadurecimento de Gudagagino. Nota dez para a mixagem de som, onde, em alguns momentos, eu achei que haviam pássaros no meu quarto. Talvez, alguém que não tenha lido o livro possa aproveitar mais a película. Eu fiquei querendo sentir a nostalgia da minha adolescência, mas ela não estava ali.