Benedetta

Paul Verhoeven é o tipo de diretor que sempre me chamou atenção. Já gostava de seus filmes sem mesmo saber que era dele. Como exemplos, posso citar ‘Robocop’ de 1987, ‘Vingador do Futuro’ de 1990 e ‘Instinto Selvagem’ de 1992. Seu cinema sempre clamou pelo exagerado em diversos momentos para expor a hipocrisia do ser humano. Esse detalhe o torna a pessoa perfeita para dirigir uma obra como ‘Benedetta’, que simplesmente não tem pudor algum de querer contar essa história praticamente sem censura.

Sinopse: “Século XVII. Benedetta Carlini é uma freira italiana que faz parte de um convento na Toscana desde sua infância. Perturbada por visões religiosas e eróticas, Benedetta é assistida por uma companheira de quarto. A relação entre as duas se transformará em um romance conturbado, ameaçando a permanência das irmãs no convento.

Lembro de ter visto o trailer e já ter achado bem polêmico, mas não achei interessante o suficiente para colocá-lo em minha lista. Quando ele estreou no início do ano me deparei com uma crítica que dava uma nota máxima para ele. Não poderia ignorar esse fato e por isso automaticamente se tornou uma obra que deveria ser vista por mim. Achei isso tudo? Não mesmo. Mas devo dizer que é uma obra bem transgressora e que vai incomodar os católicos fervorosos.

Para minha surpresa, essa história não é ficcional. Ela é baseada na vida real da freira Benedetta Carlini de Vellano. O longa em si foi baseado no livro Atos Impuros – A vida de uma freira lésbica na Itália da Renascença”escrito por Judith C. Brown em 1987. Ela estudou e conseguiu reunir relatos o suficiente para contar a história da freira que viveu entre 1591 – 1661 na Itália na época da Contra-Reforma. Na época, ela foi considerada tanto uma pessoa sacra como também foi condenada por ser sáfica (ou lésbica).

Saber que ela existiu de verdade me fez vê-lo de uma forma diferente. Inicialmente, parecia ser só uma obra feita para chocar os mais conservadores. Algo típico para chamar a atenção, mas não foi o que senti aqui. Apesar dele ser altamente blasfêmico em muitas partes, sinto que uma história queria ser contada aqui de fato. O problema é que o diretor exagera e nos mostra cenas que realmente podem impactar o público. Sendo para um lado de repúdio ou até mesmo para um lado mais fetichista. É impossível vê-lo sem um mínimo de desconforto. Conhecendo Paul Verhoeven, acredito que era isso que ele queria tirar da plateia.

Não recomendo vê-lo junto com sua família. Ele irá criar um clima de desconforto certo. Se for um católico bem fervoroso também recomendo que não o veja. Ele mexe justamente na ferida e cria situações de total repúdio a essas pessoas. No geral e sem tomar partido, posso dizer que ele é uma obra que conta sua história sem medo de ser julgada. Com seus devido exageros e com uma ótima recriação de época que me fez estar inserido por completo no período. Não é um nota 10, longe disso, mas que tem o seu valor.