As Faces do Medo

Quando o próprio roteirista dirige o filme, ele contém totalmente sua visão. Apesar de ser o filme de um homem, “As Faces do Medo” (Men) é sobre o mundo através dos olhos  de uma mulher. Ao longo da história de uma vida, mulheres são extremamente incomodadas por homens nos mais variados assuntos. Por isso, Alex Garland, optou por mostrar em pequenas passagens esses tipos de importuno. Abuso psicológico, dominação, assedio sexual, abordagens inconvenientes em bares, o policial que era para ser o protetor mas que muitas vezes acaba passando a mão na cabeça do criminoso, o voyeur e muitos outros.

O terror do longa é tanto psicológico, ao mostrar ambientes claustrofóbicos que ilustram o quanto uma mulher se sente presa, sufocada, importunada, sem ter para onde fugir, quanto pelo desconforto, grotesco e estranheza presente em diversas cenas, capazes de incomodar até mesmo o espectador mais habituado a este recurso.

O elenco não conta com muitos atores e nem mesmo muitas locações. Assim como os cenários abertos são majestosos, poéticos, artísticos e coloridos para contrastar com os claustrofóbicos cenários fechados, o pequeno elenco da um show a parte. Principalmente Jessie Buckley, que encantou público e crítica especializada ao interpretar Leda no filme “A Filha Perdida” ao lado da vencedora do Oscar Olivia Colman.

Vale ressaltar que as intenções de Alex Garland foram alcançadas com êxito. O desconforto e a tenção estão completamente presentes e são sentidos na integra, evocando até mesmo “O Iluminado” (1980) de Stanley Kubrick, uma vez que uma pessoa sozinha parece enlouquecer e se tornar violenta.  Porém, é importante ressaltar que este não é um filme para todos os públicos, já que não utiliza medo, sustos fáceis e nem muito menos possui narrativa fechada, com começo, meio, fim e explicações. Este filme é sobre a jornada e sobre o que representa sem importar muito o que é realidade e qual é o seu desfecho.