A história do infame Ned Kelly (bandido que ficou mistificado por ter desafiado as autoridades da Austrália colonial em meados de 1800) com certeza é atemporal. A primeira parte da história narrada no longa poderia muito bem se passar nos dias de hoje e em qualquer parte do mundo. Inicialmente somos apresentados a uma criança que nasceu em circunstâncias muito injustas. Pais pobres, imigrantes irlandeses, uma mãe que tenta proteger seus filhos mas não sabe como. Um menino tentando sobrevivem em uma família disfuncional.

Sinopse: “Inspirado no best-seller de Peter Carey, este filme coloca em questão toda a mitologia criada ao redor do mito sobre a vida de Ned Kelly, observando o passado de violência de toda uma sociedade. Acompanhamos a juventude de Ned e observamos sua vida até o final, percebendo, sob a ótica do protagonista, o quanto é distorcida a fina linha que separa o certo do errado. As motivações de Kelly são reveladas e as tragédias em torno de sua gangue são mostradas de forma intensa e poderosa, a começar pelo amor de uma mãe por seu filho.”

O talento de George MacKay já tinha sido mostrado no indicado ao Oscar “1917”, o jovem ator tem tudo para ser uma das grandes estrelas de sua geração. O elenco conta ainda com o veterano Russel Crowe (Gladiador), Essie Davis (Babadook), Thomasin McKenzie (Jojo Rabbit) e Nicholas Hoult (The Grate).

A trama mostra como o meio em que se vive pode formar quem você é. Um menino pobre, avesso a violência poderia ter tido um destino muito diferente se sua mãe não tivesse colocado na cabeça que ele deveria ser um bandido, que atirar o tornaria um homem.

Com uma fotografia impecável que faz muito uso de planos abertos vistos de cima que se fecham lentamente, e uma trilha sonora condizente, vemos um espetáculo impecável, onde trama e técnica se complementam em uníssono. Temos ainda a questão da sexualidade fluida, o diretor Justin Kurzel fez questão de deixar algo dúbio, não definindo os personagens como predominantemente masculinos ou femininos. O resultado de tudo isso é um filme que vale a pena mais pelo seu desenrolar do que para lançar luz sobre a história de Ned Kelly.