A Última Noite

A Última Noite” é uma tragicomédia. Inicialmente há um clima de felicidade que rapidamente escalona para um clima de estranheza. Inicialmente, a premissa é simples, amigos de longa data e seus respectivos familiares irão passar o Natal juntos, algo que parece ser um hábito entre eles. Com personagens cômicos caricatos e ao mesmo tempo trágicos, o público oscila entre rir e chorar. O filme que em um primeiro momento nos remete à “Deus da Carnificina” de Roman Polanski por ser todo em um mesmo ambiente de forma teatral com confusões repletas de segredos revelados e brigas, acaba mudando de atmosfera nos fazendo lembrar de “Melancolia” de Lars von Trier.

A trama gira em torno de Nell (Keira Knightley), seu marido Simon (Matthew Goode),os filhos gêmeos fulano e cicrano, e mais especificamente Art (interpretado por Roman Griffin Davis, conhecido por protagonizar “Jojo Rabbit). Na estranha reunião de fim de ano no Reino Unido com personagens complexos e completamente diferentes entre si, surge a notícia para as crianças de que todos irão tomar uma pílula de veneno em um ato de suicido coletivo iniciado pelo governo. O motivo é que aparentemente um gás está matando as pessoas de forma extremamente dolorosa. Algumas pessoas questionam a ideia de desistir antes de lutar, especialmente Art.

 

O grande questionamento do filme é colocar a sua vida nas mãos do governo e da ciência ou ser otimista e tentar desbravar um novo mundo que não se sabe se deixará sobreviventes. Acabar com a sua vida e a de seus entes queridos perante um eminente perigo que promete acabar com o mundo é coragem ou covardia? Tudo isso vem envolto em problemas cotidianos e dramas familiares como falta de conexão entre mãe e filha, sexualidade, aborto, traição, inveja e cobiça.

O elenco está repleto de velhos conhecidos do público que tem grande química em cena. Aquelas pessoas estão todas passando pelo maior drama de suas vidas, levadas ao extremo de um poço sem fundo que pode se acabar no dia seguinte. Enquanto alguns querem se divertir de forma desmedida para aproveita seu último dia na terra, outros questionam a falsidade deste posicionamento em face de um evento que não tem nada de normal ou feliz. Por fim, fica a ideia de que alguns são capazes de arriscar qualquer coisa pela chance de sobreviver a mais um dia, enquanto outros preferem manter o controle e fugir. A diretora Camille Griffin nos propõe o debate para fazer com que o público se questione com qual dos dois polos se identifica.