A Cabana

Para poder falar-lhe de “A Cabana” quero, em primeiro lugar, que você leia este texto – quiçá, veja este filme – com a mente aberta, independente da sua visão religiosa. Embora a adaptação do livro homônimo de William P. Young tenha como personagens Deus (apelidado de Papa ou Papai), Jesus e o Espírito Santo, esta não é uma catequização, nem tão pouco uma aula de religião, mas, sim, uma história de cura, uma cura interna tão necessária devido às agruras que a vida nos causa ao longo dos anos. Acredito que todos nós tenhamos feridas, alguns mais, outros menos, alguns desde de muito jovens, outros mais velhos, mas de uma certa forma, a vida vai deixando marcas na nossa “alma” e é ai que entra “A Cabana”. Convido todos os que já sofreram grandes perdas ou possuem feridas internas a assistirem ao filme. Caso ache que não tem como gostar deste longa, pois a temática com conteúdo religioso lhe incomoda, deixo aqui as palavras do autor William P. Young, no livro: “Se você odiar esta história, desculpe, ela não foi escrita para você”.

Mackenzie (Sam), inicialmente, nos é mostrado como um menino sofrido, com um pai extremamente religioso, assíduo frequentador da igreja presbiteriana que bate no filho e na esposa. Então, o tempo passa e ele cresce próximo a Deus, de forma figurada e literal. Em um primeiro momento, a personagem de Octavia Spencer nos é apresentada como uma espécie de vizinha do menino que lhe ensina a rezar nas horas difíceis e que bater não é correto, bater não é amor.

A vida de nosso personagem principal é toda marcada por culpa e responsabilidade, seja quando criança ou quando adulto. Criança, ele acredita que deveria conseguir impedir o pai de bater na mãe (muitas vezes é por isso que acaba apanhando), mas como é dito pelo narrador da história: “Treze anos é muito jovem para ser adulto”. Depois, vemos esse menino já crescido, casado e com filhos, mantendo uma relação apenas respeitosa com seu antigo Deus por quem provavelmente sente-se abandonado e injustiçado, essa sensação só piora quando sua filha caçula é sequestrada e morta em um pequeno momento de distração quando estava sob seus cuidados. Temos ai, mais uma vez, a culpa, misturada com ira a contra o “divino” que, de novo, para ele, “o abandonou”.

Sua esposa, Nan (Radha Mitchell), é o pilar que sustenta a família e, diferente do marido, não vê seu Deus como alguém distante, vingativo, mas, sim, como alguém muito próximo, alguém repleto de amor, a quem ela chama carinhosamente de Papa. E é justamente com essa alcunha que está assinada uma carta que Mack recebe com o convite para visitar a cabana onde a filha foi brutalmente assassinada.

Já na cabana, Mackenzie encontra seu Deus na forma humana de uma mulher (Octavia Spencer), um carpinteiro com aparência islâmica a quem ela chama de filho (te lembrou alguém?) e uma jovem sonhadora com aparência oriental, o espírito santo.

Ok, eu sei que o que eu disse pareceu extremamente catequista, mas veja bem, Mackenzie confronta esse Deus que, assim como uma mãe carinhosa, quer acalmar sua revolta, sua dor, de forma doce e paciente, nunca indignada ou ofendida.

Para mim, uma das melhores cenas do filme é protagonizada pelo ator Aviv Alush (Jesus). Nela, mostra ao nosso protagonista que não quer servos obedientes, como muitas vezes as igrejas pregam, que quer amigos, que em sua forma humana, e sozinho, pode não ter forças para fazer muitas coisas, mas acompanhado e com fé, pode até andar sobre as águas.

Muitas vezes, o que nos ajuda a passar por momentos difíceis é ter fé, seja ela religiosa ou a simples esperança de que algo melhor virá; e o filme é isso, uma cura através de fé. Por isso, meu querido leitor, espero que você possa passar por cima de qualquer preconceito e apreciar este belíssimo filme. De resto, ele tem umas falhas um pouco graves de roteiro, já que algumas coisas são tão subentendidas que o entendimento real passa longe.

Quanto a comparação com o livro não posso fazer, mas muitos colegas me disseram que o livro é infinitamente melhor e isso só me deu mais vontade de lê-lo.

Por Luciana Costa

 

Veja tb, coletiva de imprensa com a atriz Octavia Spencer: http://cinematizando.com/coletivaoctaviaspencer/