O Filme da Minha Vida

É poético, bonito, bem-intencionado, mas falha por ser a biografia sem propósito de um autor desconhecido. O mais estranho que acontece aqui é que falha, porém acerta. Vou tentar me explicar. O filme parece realmente sem propósito, eu não saberia nem mesmo contextualizá-lo com relação a seu gênero, no entanto ele é dotado de uma poesia única. As frases de impacto são tão majestosas que talvez fosse esta a intenção do diretor e ator Selton Mello: mostrar a beleza da vida comum do “João Ninguém”. Nós todos ouvimos frases bonitas, tristes ou marcantes ao longo de nossas vidas, colecionamos um bocado de conselhos bons e ruins, bem como experiências cinematográficas, e essa é a de Tony (Johnny Massaro).

Temos aqui, tal qual em um dos meus títulos brasileiros favoritos, “Lisbela e o Prisioneiro”, o filme dentro do filme. A começar pelo título da trama, a continuar pela queda do nosso protagonista pela Sétima Arte, passando por ele assistir “Rio Vermelho” várias vezes no cinema da cidade vizinha, ao continuar na sala de projeção.

Os grandes pontos do longa são, com certeza, a atuação de Massaro, a trilha sonora composta por clássicos em português e francês, a fotografia e a mixagem de som.

A história de Tony – filho de um francês (Vincent Cassel) com uma brasileira – gira toda em torno da “vida na roça”, roça esta da qual ele saiu para estudar por pressão do pai e ao retornar, o viu partir; das lembranças e da obsessão pela figura paterna, que o levam a gravar cada frase na memória e repetir para si mesmo como se precisasse absorvê-las; de um amigo da família, Paco (Selton Mello), um típico roceiro e coisa mais próxima de um pai que sobrou para Tony; e das irmãs Petra (Bia Arantes) e Luna (Bruna Linzmeyer), respectivamente, a mais velha e a mais nova. As irmãs são as forças motrizes de toda esta história, sendo que Petra é um sonho; enquanto Luna é uma realidade possível.

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O que sobra de beleza na personagem de Bruna, falta em direção e roteiro. Temos, aqui, uma personagem que é para ser linda sem esforço (em contraponto com a irmã que se arruma bastante e participa de concursos de beleza), para ser companheira, sonhadora, fofa e real, porém, se a ideia era torná-la poética, Selton errou feio a mão na direção. A personagem tem frases tão surreais que ao invés de carismática, mais parece ter sérios problemas reais. Em algumas de suas cenas, há uma infantilidade que passa do ponto.