Tár
‘Tár’ é um filme que fala sobre a maestro Lydia Tár. Conhece ou já ouviu falar? Provavelmente não, pois ela é uma personagem fictícia. Porém, o filme passa o seu currículo com tanta propriedade e tanta certeza de quem ela é, que deve ser normal pensar que essa história é baseada em fatos reais. Essa credibilidade se deve a direção, roteiro e a magnífica interpretação de Cate Blanchett (O Beco do Pesadelo) que faz parecer que nasceu para ser uma maestro. Todos esses elementos engrandecem o longa a ponto de ser uma das obras mais interessantes no início desse ano.
Sinopse: “Tendo alcançado uma carreira invejável com a qual poucos poderiam sonhar, a renomada maestrina/compositora Lydia Tár (Cate Blanchett), está no topo do mundo. Como regente, Lydia não apenas orquestra, mas também manipula. Como uma pioneira, a virtuosa apaixonada lidera o caminho na indústria da música clássica dominada por homens. Além disso, Lydia se prepara para o lançamento de suas memórias enquanto concilia trabalho e família. Ela também está disposta a enfrentar um de seus desafios mais significativos: uma gravação ao vivo da Sinfonia nº 5 de Gustav Mahler. No entanto, forças que nem mesmo ela pode controlar, lentamente destroem a elaborada fachada de Lydia, revelando segredos sujos e a natureza corrosiva do poder.”
Uma das minhas funções aqui é falar um pouco do filme e preparar um pouco o público para saber exatamente o que estará assistindo. Dito isso, preciso dizer que ele não é tão fácil de ser acompanhado, principalmente por pessoas que são ansiosas e que pegam no celular o tempo inteiro. Ele é lento, possui uma construção demorada e possui takes bem longos, principalmente no seu início. Em qualquer outro filme, estaria reclamando do ritmo dele, mas aqui não. Esse tempo que perdemos é extremamente necessário para conhecermos a pessoa de Lydia Tár. Acompanhá-la no seu ápice e posteriormente sua derrocada, faz parte da imersão proposta.
Como todo gênio que acompanhamos pela história do mundo, temos sempre a ideia dele ser extremamente genial, porém uma pessoa completamente difícil de lidar. Isso não é diferente aqui, e nossa protagonista é uma dessas. O tamanho de sua paixão pela música junto com o status em que alcançou traz toda a sua arrogância e amor e sempre acaba atingindo as pessoas em sua volta. Sejam alunos, sejam parceiros de trabalho, sejam na vida pessoal. Além disso, ainda vemos a personagem usando de seu poder para tirar proveito de forma sexual. Quando ela não consegue o que quer, acaba provocando o declínio de outra pessoa. Esse é um dos grandes plots da trama. Demora a vir, mas quando você percebe o que está acontecendo pode acabar ficando atônito com a resposta em cena.
Um detalhe que sempre é mostrado é a sensibilidade que ela tem com ruídos. O menor deles a faz ficar atenta a seja lá o que for. Quando junta isso a sua culpa por coisas passadas, faz com que comece a escutar vozes e gritos femininos pelo dia a dia. Além disso, começa a ter pesadelos dos quais não entendemos de início, mas que vai ficando muito claro com o decorrer da história. Isso é simples, pode passar despercebido, mas é um ponto de suma importância que ajuda a definir a personagem.
Devo dizer também que tecnicamente ele é excelente. O diretor Todd Field não fazia nada nessa função desde 2006 com ‘Pecados Íntimos’. Aqui, ele mostra uma direção completamente segura. Por muitas vezes pode parecer normal, mas a segurança dele ajuda a contar a história. Além disso, ele também roteiriza e posso dizer que ele faz isso de forma redonda. A sua longa duração (2h 38m) não me incomodou e acho que conseguiram colocar em tela tudo o que realmente queriam.
É lógico que um filme como esse não poderia passar longe das premiações e ele já vem com um certo destaque. Cate Blanchett ganhou o Prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro e no Critics Choice. Ainda nessa última premiação, o filme também ganhou o Prêmio de Melhor Trilha Sonora para Hildur Guanadóttir. No Oscar, acabou de ser indicado em 6 categorias. Entre elas, Melhor Filme, Melhor Direção (Todd Field), Melhor Atriz (Cate Blanchett), Melhor Edição (Monika Willi), Melhor Fotografia (Florian Hoffmeister) e Melhor Roteiro Original (Todd Field).
M
A essa altura acho que ficou claro o quanto eu gostei desse filme e o quanto eu estou recomendando ele. Lógico, não acho que ele seja para todos. Dificilmente cairá no gosto popular, principalmente pelo seu enorme tamanho e por possuir um ritmo lento. Para mim, merece todo esse destaque que já se alastra perante as grandes premiações.