Seguindo Todos os Protocolos

O que você fez durante a pandemia? O que sentiu durante os dias de lockdown? Seus relacionamentos continuaram? A sua família continua do mesmo jeito que era antes? “Seguindo Todos os Protocolos” do recifense Fabio Leal que dirige, escreve e estrela o filme, responde essas perguntas sobre a ótica de um homem comum que, assim como todos nós, viveu (e ainda vive) em um mundo pandêmico.

Chico está há dez meses preso em casa por causa da COVID-19, doença que tomou conta do planeta em 2020. Depois de brigar pelo Zoom com o namorado e descobrir que foi traído várias vezes, ele decide que quer ter relações sexuais. Mas como fazer isso quando não se pode tocar nas pessoas, tendo que ficar há uma distância segura de no mínimo 2 metros? Como se relacionar sem beijar, tocar ou sentir o outro? Chico faz o que muitos fizeram durante o tempo em que ficamos presos em casa: pesquisou na internet. Lá, com vários artigos, notícias e textos, ele descobre que era possível fazê-lo com segurança. Para conseguir, ele puxa conversa com um ex-ficante, Raul, que vai lhe fazer uma visita.

A solidão, carência e busca de afeto durante uma época onde o seguro é ficar em casa se torna algo quase que contraditório. Chico usa máscara e plástico como separadores para conseguir suprir o vazio que sentia sem nem saber. Só que a segurança que ele pensava que isso traria, não é capaz de barrar o tesão. Ele e Raul acabam se encostando. Os dois passam um tempo em um amor que pode ser chamado de fofo.  Eles acabam se deixando levar e Raul faz a besteira de tirar a máscara dele e a de Chico para beijá-lo. Isso não se faz! É possível ver o medo nos olhos do pobre Chico. Medo de pegar uma doença da qual ninguém sabia nada. Medo de ficar doente, de ter que ir para hospitais cheios, medo de perder a vida pelo erro do outro…

Com o peso do que vivemos nesses últimos anos, “Seguindo Todos os Protocolos” se torna um filme que o público pode se identificar facilmente. Quem não se sentiu só durante o lockdown? Vontade de sair na rua, ver gente, conversar com alguém que não fossem as pessoas que moravam com você?  Para Chico, isso é ainda pior já que ele mora sozinho. As pessoas que ele via eram pela tela do computador ou celular. Sentir amor assim é bastante difícil. E esse amor não é só o de uma pessoa para outra romanticamente.

Durante a chamada de Zoom com Ronaldo, seu ex-namorado, Chico é chamado de ‘fiscal de Instagram’. Ver os amigos vivendo a vida normalmente quando morrem mais de mil pessoas por dia e postar sobre não é ser uma pessoa ruim. Em vários lugares era possível ler e ouvir que a COVID não era uma doença exclusiva, não vai ser só a pessoa que vai pegar. Podiam levar o vírus para casa e passar para a família toda. Para que isso não acontecesse, era preciso tomar os cuidados necessários. Só que, muitas vezes, a cabeça do ser humano pensa que era só uma gripezinha, então por que não posso abraçar os meus filhos depois que voltei do trabalho? Por que não posso visitar os meus pais? Muitos morreram assim, com o erro dos outros.

No final, a mensagem que fica é a de que, se cuidando e tendo paciência, tudo isso vai passar.