Relatos do Mundo
“Relatos do Mundo” é sobre pessoas totalmente diferentes que moram em um mesmo país cujo os caminhos se cruzam. É uma jornada tanto geográfica para determinado destino quanto interna. No longa o ex-veterano de guerra Capitão Kidd,- interpretado brilhantemente pelo único ator a ganhar o Oscar dois anos seguidos Tom Hanks-, tem por ocupação passar de cidade em cidade lendo histórias e jornais para o povo, o ingresso custa apenas 10 centavos. No decorrer de uma de suas viagens ele se depara com uma menina de origem alemã que foi criada por índios (interpretada por Helena Zengel) a quem ele chama pelo nome de batismo Johanna e decide levá-la à uma colônia alemã já que a tribo Kiowa que a criou foi dizimada.
A atriz mirim que interpreta Johanna (ou Cigarra como era chamada pelos Kiowa), chamou a atenção do público e da crítica ao estrelar o filme “Transtorno Explosivo” que foi o escolhido alemão para disputar o prêmio de filme estrangeiro no Oscar 2020.
O diretor Paul Greengrass (“Voo 93” e “Capitão Philips”) faz várias analogias ao colocar como protagonistas um americano branco e uma alemã que se considera indígena. Um não fala o idioma do outro e vão precisar de muita paciência e empatia para compreender um ao outro, assim, suas culturas vão se fundindo. Com isso o diretor tem o intuito de nos propor a reflexão de entendimento entre os povos, culturas e até visões políticas diferentes através do diálogo ao invés de intolerância e preconceito.
Apesar de ter sido lançado diretamente em streaming, o filme tem cara de Oscar. É um roadmovie sobre autoconhecimento. Tanto o adulto quanto a criança sofreram muitas perdas, enquanto Capitão Kidd acredita que é importante fugir do passado e seguir em frente, Johanna acredita que é preciso revisitar o passado para poder viver o futuro. Um vai ensinar muito ao outro.
Além de abordar temas como xenofobia, racismo, intolerância e Guerra de Secessão, o filme aborda ainda a importância da liberdade de impressa e apesar de se passar no século 19 faz uma crítica sutil as fake news. Nem só de temas polêmicos é feita a trama, temos um western nos moldes clássicos fazendo lembrar filmes como “Nevada Smith” (1966), “O Passado Não Perdoa” e até mesmo o remake “Bravura Indômita” (2010). Com todos os tiroteios, vilões e coragem necessários aos filmes do gênero.
Quando iniciamos a imersão em um filme é preciso deixar a realidade de lado e acreditar até mesmo no que parece absurdo pois no universo cinematográfico, tudo é possível. Mesmo sabendo disso, os protagonistas se comunicarem com perfeito entendimento em apenas dois dias de convivência vai incomodar os mais céticos.