Os Miseráveis (2019)

Por ser um filme francês com o nome “Os Miseráveis”, automaticamente me perguntei se era uma versão moderna do grande clássico de Victor Hugo. Logo descobrimos que não é um remake e nem uma adaptação atual do conhecido romance. Apesar dele ser citado durante o longa, somente no final entendemos o título com a seguinte frase retirada do livro: “Lembrai-vos sempre de que não há ervas daninhas nem homens maus: — há, sim, maus cultivadores” (não se preocupe, não é spoiler). É com essa frase que entendemos todo o contexto e que saímos pensando sobre tudo o que aconteceu aqui.

Sinopse: “Stéphane (Damien Bonnard) é um jovem que acaba de se mudar para Montfermeil e se junta ao esquadrão anti-crime da polícia francesa. Colocado no mesmo time de Chris (Alexis Manenti) e Gwada (Djibril Zonga), dois homens de métodos pouco convencionais, ele logo se vê envolvido na tensão entre as diferentes gangues do local.”

Começamos com a comemoração da França campeã da Copa do Mundo de 2018. Todos felizes, contentes e alegres. Afinal, nada como uma bela comemoração de um título de futebol para esquecermos os problemas e fingir que está tudo bem. Iniciamos com um tom, mas não é esse o tom que teremos daí para frente. O que vemos é uma sociedade pobre, de maioria negra e muçulmana, sofrendo com a truculência e com o abuso policial no dia a dia. Isso me lembrou muito o Brasil. Tocando nesse assunto, é muito enriquecedor ver filmes estrangeiros que nos façam conectar com sua realidade e que, automaticamente, consigamos nos remeter a nossa rotina e daí começar a traçar paralelos entre as duas culturas.

Por contar a história pelo ponto de vista de um policial no seu primeiro dia de trabalho, me remeteu na hora a “Dia de Treinamento”; filmaço de 2001 estrelado por Denzel Washington e Ethan Hawke. O dia infernal é repetido aqui também e vai em uma escalada vertiginosa criando uma imensa tensão que culmina no grande clímax do longa. Aconteceu aqui o que sempre esperei que acontecesse com uma sociedade oprimida. Uma hora ela se cansa e não tem quem consiga enfrentar uma população enfurecida. Franceses historicamente são conhecidos por isso.

Amo essa época do ano, que nos dá muitos filmes bons devido as premiações. Temos aqui mais um filme excelente e que já realizou alguns feitos como ter ganho o Prêmio do Juri em Cannes em 2019 (prêmio dividido com Bacurau), uma indicação a filme estrangeiro no Globo de Ouro de 2020 e é o escolhido francês para disputar o Oscar esse ano. Com esse currículo o longa de Ladj Ly (diretor do curta que deu origem ao filme) já chega como uma das melhores coisas para ser vista nesse início de ano.