O Urso do Pó Branco

Por incrível que possa parecer, a história de ‘O Urso do Pó Branco’ é baseada em uma história real. Lógico que com suas devidas licenças poéticas. A história verdadeira começa quando um policial chamado Andrew Thonton, vivido aqui por Matthew Rhys (The Americans: Rede de Espionagem), que trafica drogas da Colômbia para os Estados Unidos, morre após o seu paraquedas não aguentar devido o peso da cocaína que está junto ao seu copro. Com isso, vários quilos da droga se espalharam por um parque no Kentucky. Um urso preto achou e inalou uma grande quantidade de cocaína. Após isso, o animal teve overdose e morreu ficando assim conhecido como “Pablo EskoBear”, uma alusão ao famoso traficante colombiano Pablo Escobar e uma junção com a palavra “bear” que seria “urso” em inglês.

Esses são os fatos reais, mas o que vemos é um filme de terror e comédia graças a essa premissa maravilhosa.

Sinopse: Em 1985, um avião carregado de cocaína cai em algum lugar no meio do nada na floresta da Geórgia. Na busca pela valiosa substância, os traficantes, donos da mercadoria, percebem que outro ser foi mais rápido do que eles. Um enorme urso preto encontrou a droga antes deles e agora está completamente chapado. Turistas, alguns adolescentes, policiais e até os próprios traficantes da droga se encaixam perfeitamente no esquema de presas do monstruoso animal. Agora só resta uma coisa: sobreviver e torcer para que a máquina de combate peluda acabe indo embora. Mas o urso desenvolveu um gosto pela substância e quer mais e mais do pó branco.

Sejamos francos, essa história não poderia ganhar um escopo sério em tela. Optarem por ser uma comédia gore talvez tenha sido a melhor solução para ele. Nessa parte, eu posso garantir que ele faz muito bem, pois me arrancou grandes risadas e muita ojeriza por algumas cenas, que eu diria serem bastante fortes. Os personagens descartáveis são todos caricatos e ótimas vítimas para o nosso urso. Não ficamos mal porque morrem, na verdade, nos divertimos com isso e clamamos por mais.

O ponto que mais me pegou foi justamente a comédia, essa parte realmente diverte e faz valer a pena toda a projeção. O horror também satisfaz, embora não seja o maior foco dele, ao meu ver. Mas temos um problema: o roteiro. Em diversos momentos ele se torna incoerente. Um dos maiores pontos é do porque ele não mata a filha da protagonista. Não existe nenhuma razão lógica para ter poupado e, sim, era para ter matado também. Sem contar o seu clímax que vira uma grandiosa confusão onde todo mundo se junta e vira qualquer coisa. A noção de geografia também atrapalha um pouco, pois parece que o urso está em todos os lugares ao mesmo tempo. Esses problemas até podem ser ignorados se o intuito for apenas a diversão desmiolada.

Esse filme marca um dos últimos trabalhos de Ray Liotta (Os Bons Companheiros), que foi vítima de um infarto em 2022. Por ser fã do ator, vê-lo em cena foi feliz e ao mesmo tempo melancólico. No final, dedicam o filme a ele. Foi bom também ver o encontro de Keri Russell (Felicity) e Matthew Rhys em um novo trabalho, após viverem o casal icônico de espiões na série ‘The Americans: Rede de Espionagem). Eles não contracenam entre si, mas já vale a referência.

‘O Urso do Pó Branco’ vale a diversão e só. Em nenhum momento ele deve ser levado a sério, caso faça isso, toda a graça irá se esvair e ainda terá uma experiência ruim ao assisti-lo. A diretora Elisabeth Banks (As Panteras), mais conhecida pela atuação, ainda pode ser considerada uma novata na função, mas mostra alguma potencialidade futura nesse cargo. Ainda faz o feijão com arroz, mas prevejo ela alçando voos mais desafiadores no caminho que se segue.