O Selvagem

O filme começa com um narração feita pelo personagem central, já começa aí a romantização do anti-herói. Não nos é contada a vida pregressa do personagem central, o anti-herói Johnny, mas não é difícil de ter uma boa noção através de diálogos. O episódio contado no longa realmente aconteceu. Uma gangue de motociclistas invadiu uma pacata cidade virando-a de cabeça para baixo, porém, obviamente não é um retrato fidedigno e sim romanceado. Os realizadores do filme querem nos mostrar a podridão humana escondida por trás da hipocrisia. No fim, ficam perguntas no ar: Quem é o vilão? Quem é o marginal? Quem é o dito homem de bem?

Sinopse: Um grupo de motociclistas chega a uma pacata cidade e começa a arrumar confusões com os moradores. A situação piora com a chegada de uma gangue rival. A cidade quer se livrar dos arruaceiros custe o que custar. Enquanto isso, um romance começa a aflorar entre Johnny o líder dos motoqueiros e Kathie, uma jovem trabalhadora e sonhadora.

Não se pode dar o que nunca se aprendeu. Quem só conhece maus tratos, violência, desprezo e anarquia não sabe se comportar de forma adequada em sociedade, não é capaz de dar educação e carinho. Por isso, deve ser perdoado. O problema é quando quem recebeu tudo isso se comporta como um selvagem. O motoqueiro anarquista tem honra, é contra covardia. E os poderosos bem educados da cidade?

A parceria bem orquestrada entre roteiro (John Paxton, Ben Maddow), direção (László Benedek) e produção (Stanley Kramer) utiliza vários simbolismos como o virar de cadeiras, a música ou a falta dela no jukebox, a garrafa que transborda quando apoiada com brutalidade ou um troféu roubado com enorme valor sentimental.

Foi uma escolha do produtor Stanley Kramer (Advinha Quem Vem Para Jantar) escalar Marlon Brando para o papel. O ator já tinha estrelado seis filmes, incluindo “Sindicato dos Ladrões” que lhe rendeu o Oscar de Melhor Ator. Brando virou um ícone, símbolo da contra-cultura, de uma geração de rebeldes inconformados. Utilizou vários maneirismos em cena que são copiados até hoje como símbolo de bad boy. Ao assistir “O Selvagem” (1953) não há como não concordar com vários estudiosos que o chama de “western”, onde os cavalos foram substituídos por motos, mas ainda temos um xerife de fachada, uma mocinha, justiceiros e o bando itinerante que se recusa a fincar raízes.