O Juízo

Quando eu era criança durante as minhas férias de verão sempre viajava para Barra de São João, região litorânea do Rio de Janeiro. Toda vez que estava na estrada e que chegava em uma área rural, notava aquelas casas grandes e velhas e ficava me perguntando como deveria ser morar ali. Lugar longe de tudo e, principalmente, imaginava como seria passar a noite em um local desse. Tudo isso junto com histórias que eu ouvia de casas velhas, em que as pessoas escutavam barulhos estranhos a noite e diziam que naquele lugar já tinha morrido muitos escravos. Pois bem, fizeram um filme com todas essas minhas indagações e medos.

Sinopse: “Em crise no casamento devido ao alcoolismo e por ter perdido o emprego, Augusto Menezes (Felipe Camargo) decide se mudar com esposa (Carol Castro) e filho (Joaquim Torres Waddington) para uma fazenda herdada de seu avô. O que ele não imaginava era que a propriedade fosse assombrada por Couraça (Criolo) e Ana (Kênia Bárbara), escravos decididos a se vingar dos antepassados de Augusto.”

Embora eu, talvez, tenha dado a atender que é um filme de casa assombrada, não é exatamente sobre isso, mas é um fato que a casa faz parte do cenário e serve muito para dar o clima de escuridão usado pela fotografia. Até as imagens de dia parecem escuras, possivelmente proposital. No geral, o achei bem morno, não mexendo comigo. Não me senti preso pela trama e tem um problema muito grande que sempre reclamo por aí: se não consigo sentir empatia pelo protagonista, dificilmente vou comprar a sua história. Muitas vezes senti que ele se perde um pouco em não saber o que quer. Poderia ter usado mais o suspense e a dúvida do telespectador sobre a sanidade dos personagens para ficarmos na dúvida sobre o que está acontecendo. E quando chega o seu clímax ele se torna cliché ao ponto de eu cantar o que vai acontecer.

Apesar de ter vários nomes grandiosos no elenco, sinto que não foram bem aproveitados. Até mesmo a nossa rainha Fernanda Montenegro (Central do Brasil) não consegue entregar como deveria. A impressão que tive é que tava todo mundo com o roteiro decorado, mas que parecia uns robôs. E surpreendendo todo mundo, acho que a única que manda muito bem é Carol Castro (O Concurso), que conseguiu me passar toda a preocupação de uma mãe com seu filho e com o seu marido, vivido por Felipe Camargo (O Rastro), nosso protagonista, que deveria entregar muito e não foi o que aconteceu.

Não sou o tipo de pessoa que gosta de dizer para não ir ao cinema ver algo. É coisa minha, sempre penso no trabalho realizado por todos e me sinto aquela pessoa que apenas julga. O fato é que esse longa não me pegou e não conseguiu me entreter como deveria. Já fui muito preconceituoso com filme nacional, hoje em dia eu consigo ver o seu valor em tela e realmente consigo apreciá-lo, mesmo que ainda tenhas algumas aberrações por aí. No mesmo ano que tivemos Bacurau, o nível foi aumentado e gostaria de ver algo muito melhor do que me foi dado aqui.