O Bar Luva Dourada

Aqui, a grande arma para chamar a atenção do expectador é o desconforto, o fundo do poço, quando não há mais para onde retornar. Neste filme a integridade física e até mesmo higiene pessoal são esquecidas. Os assassinatos acabam sendo secundários ao passo que o diretor, roteirista e produtor Fatih Akin (“Em Pedaços”) nos da um retrato fiel da sarjeta. O submundo, o torto, a feiura escondida em biroscas pelo mundo de baixo dos panos. Remete bastante ao livro “O Cortiço” de Aluísio Azevedo, porém, ainda mais baixo e repleto de sangue.

A trilha sonora, muitas vezes em vitrola ou jukebox (já que o longa se passa na década de 70) dá o ar cômico a trama. A comédia está presente em quase todos os momentos, porém, não é de fácil digestão. A caracterização do ator Jonas Dassler está praticamente impecável, mas o auge da imitação fidedigna mesmo ficou para os cenários.  Um filme de baixo orçamento com uma estética que funciona.

O desmazelo e descuido de todos os personagens é impressionante, principalmente do assassino Fritz Honka (Jonas Dassler) o protagonista. Por ser uma história real, faz pensar a que ponto a pessoa não se importa com a própria vida chegando a ser tão descuidada. Este não é nem de longe um assassino meticuloso, ele mal se esforça para ocultar os corpos de suas vítimas. As escolhidas são sempre pessoas do submundo, do tipo que ninguém daria por falta. Desconforto e até mesmo tristeza se misturam à cenas cruas de sexo e violência.

Isso não é mostrado no longa, mas Honka ficou conhecido por sempre escolher como vítimas mulheres bem mais velhas, sem dentes e quase sempre prostitutas. O único motivo que alegou para seus massacres foi apenas de cunho sexual. Em 1975 foi preso por 15 anos, passou o resto de seus dias com nome falso em uma casa de repouso, vindo a falecer em 1998, apenas cinco anos após deixar a prisão