Drive My Car

Drive My Car’ é mais um filme da lista que está indicado ao Oscar e que vem ganhando várias premiações por aí. Ele está concorrendo para Melhor Filme, Melhor Diretor para Tyûsuke Hamaguchi, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme de Língua Estrangeira (ele é japonês). Entre os maiores prêmios da temporada que ganhou tem o de Melhor Roteiro em Cannes e o prêmio de Melhor Filme de Língua Não-Inglesa no BAFTA desse ano. Com essa carteirada toda eu já o indico para a lista de longas imperdíveis do ano.

Sinopse: “O ator e encenador Yusuke Kafuku é convidado a encenar O Tio Vânia de Tchécov num festival de teatro em Hiroshima. No carro em que se desloca, conduzido pela discreta jovem Misaki, Kafuku confronta-se com o passado e o mistério sobre a sua mulher, Oto, que morrera subitamente levando um segredo com ela.”

 

A história de ‘Drive My Car’ é baseada em um conto do livro ‘Homem Sem Mulheres’ escrito por Haruki Murakami. Não li, mas acredito que o longa tenha mais detalhes do que o conto em si. Afinal, transformaram uma história de poucas páginas em uma épica história sobre o luto de quase 3 horas de projeção. Aproveito para dizer que a minha única crítica negativa para ele é o seu tempo de duração. Ele é grande demais e poderiam sim ter encurtado em pelo menos meia hora.

Como adiantei um pouco no parágrafo anterior, ele conta a história de um luto. Sua primeira meia hora é apenas para entendermos a profundidade dessa dor profunda. Acontecimentos desse início ficam sem uma ampla explicação momentânea, mas tudo faz sentido até os seus momentos finais, e que momentos. A construção de todo o emocional é devagar, mas quando algumas revelações ganham vida, nos sentimos recompensados com tamanha interpretação e com tamanho poder emanado pelo texto.

Destaco duas cenas incríveis que para mim são os momentos chaves da história. A primeira é uma cena de quase 10 minutos com o nosso protagonista conversando com o ator de sua peça dentro do carro. Uma tensão é criada nesse momento, mas o que temos é uma revelação dolorosa e que apesar de tudo, é muito verdadeira e singela; a segunda cena que destaco já é em seus momentos finais quando os dois protagonistas se abraçam e falam enfim sobre a dor do luto. É sobre a perda e sobre o perdão. Nunca vamos esquecer os que já foram, mas vamos continuar vivendo. Só por essas duas cenas ele já mereceria uma nota 10 convicta.

Outro destaque dele é a imprevisibilidade do roteiro. Eu tenho uma mania de tentar adivinhar tudo o que vai acontecer. Aqui, eu tenho orgulho de dizer que errei sobre tudo. Isso é ótimo. Ele não fica preso a nenhuma convenção e ficamos logo livres dos clichés. Isso para mim é como achar água no meio do deserto. Os diálogos são excelentes. Até mesmo aquela fala que aparentemente não leva a nada, tem um peso no final. Com isso, ele vai tendo mil camadas que daria para ficar discutindo abertamente até amanhã de manhã e fazendo com que eu escrevesse umas 100 páginas só para falar de todos os detalhes entranhados.

Tenho certeza que algumas pessoas ficarão confusas com o seu momento final, mas ele é claro. A união pelo luto os fez criar uma nova família. Não uma convencional, como mulher e marido, mas no sentindo mais amplo dessa palavra. Pessoas que perderam pessoas importantes para si acabam por tentar fechar as lacunas mutuamente. Isso é fazer a vida continuar. Isso é viver, seguir em frente e nunca se esquecer de quem já foi importante para você na vida. RECOMENDAÇÃO MÁXIMA para ele.