Deslembro
Na atualidade, muita gente “deslembra” um monte de coisas. Há quem até mesmo negue a existência do holocausto agora que seus sobreviventes estão morrendo por conta a idade. Com a falta de registros e um povo politicamente egoísta, alguns hoje negam os horrores da ditadura, até mesmo celebrando-a sem a menor vergonha. Usar o cinema como arma é a melhor forma de mostrar os desdobramentos de tudo que aconteceu. Durante o Festival do Rio (2018) apareceu o necessário “Deslembro” de Flavia Castro que recebeu o Prêmio Fipresci. Agora chega também as telas de cinema de todo o país.
O filme se passa em vários países e em vários idiomas. Inicialmente em Paris, somos apresentados a uma família composta por Joana (Jeanne Boudier), sua mãe, o padrasto chileno e os irmãos mais novos. Joana não se lembra bem da infância, misturando lembranças falsas com reais, uma brilhante analogia com o que se passa na memória atual do brasileiro. Seu pai foi morto durante a ditadura e sua família exilada. Anos depois eles recebem anistia para voltar ao país, é aí que a confusão da menina se torna cada vez maior.
Já no Rio de Janeiro, Joana conhece a avó Lucia, interpretada por uma das grandes damas do cinema nacional, Eliane Giardine. É entre as duas que se passam as conversas mais pertinentes. É com a avó que ela vai descobrindo a verdade sobre o que aconteceu com seu pai.
Em paralelo com os fatos políticos, temos uma adolescente tentando se adaptar e viver de forma normal. Há a cena de uma festa onde ela descobre através de um amigo do pai que este cantava, algo que ela também gosta muito de fazer. Ali começa um romance com o jovem Ernesto (Antônio Carrara). O maior erro do filme com certeza foi a festa, ela toda foi muito mal atuada com diálogos que não convencem. Todas as cenas contendo o jovem ator Antônio Carrara têm este problema, acredito que ele tenha sido escalado pelo talento musical. Se não fosse isso, o longa teria sido impecável.
As músicas, lembranças misturadas com fantasia, e as belíssimas paisagens da cidade maravilhosa, dão a esta produção um ar de poesia. Com certeza, um filme obrigatório para o povo brasileiro!