Bacurau

Pode ser uma ousadia muito grande da minha parte, mas posso dizer que Bacurau é o filme nacional do ano. Tudo bem que ainda estamos em agosto, mas acho difícil aparecer mais um desse por aí. Grande vencedor do Prêmio do Júri em Cannes nesse ano. Com direção de Juliano Dornelles e Kleber Mendonça Filho (Som ao Redor) temos aqui quase um épico western/sertão que nos mostra que subestimar as pessoas pode ser mortal.

Sinopse: “Pouco após a morte de dona Carmelita, aos 94 anos, os moradores de um pequeno povoado localizado no sertão brasileiro, chamado Bacurau, descobrem que a comunidade não consta mais em qualquer mapa. Aos poucos, percebem algo estranho na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam à cidade pela primeira vez. Quando carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, Teresa (Bárbara Colen), Domingas (Sônia Braga), Acácio (Thomas Aquino), Plínio (Wilson Rabelo), Lunga (Silvero Pereira) e outros habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Falta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa.’

Vou começar contando uma pequena curiosidade sobre o nome do filme. Bacurau é o nome da cidade onde a história se passa, mas também é o nome de um pássaro da região que possui hábitos noturnos. Ele vive na maioria de seu tempo no chão onde pode se camuflar entre as folhas e só é visto durante o dia quando se espanta, e desse modo ele voa a curtas distâncias para fugir do susto. Coincidentemente ou não, essas são as características do povo que vive nessa cidade. Um povo simples, pobre, mas com uma incrível consciência social entre eles, mesmo sendo sujeitos ao mal caratismo de seu prefeito.

Apesar de se passar alguns anos no futuro só para salientar o uso de alguns aparatos tecnológicos e para mostrar a possível banalização da vida humana, ele tem aquele clima de abandono e terra sem lei criadas em faroestes famosos. E essa foi justamente a impressão que eu tive. Um povo que se acha superior, vindo para dominar outro povo aparentemente mais fraco. Alegorias políticas? Certamente. O longa nos leva a ter um certo ódio das coisas que acontecem até um momento de êxtase em que é impossível não dar um berro na sala. Só tenho uma pequena reclamação: ao comparar Bacurau com filmes de western, eu lembrei de Sergio Leone (diretor de Três Homens em Conflito), e por isso esperei um clímax tenso e catártico, mas isso não me foi dado. Mesmo assim o final é bastante satisfatório.

É uma pena que filmes como esse serão destinados a poucas salas no nosso próprio país. Enquanto lá fora os gringos batem palmas em pé e ovacionam nosso produto, aqui ele fica sujeito a salas de nicho, onde apenas um certo grupo de pessoas irá ver. Ficaria surpreso se passar em algum shopping. Deveríamos valorizar mais o nosso cinema, e não apenas prestigiar comédias fáceis. “O povo quer sorrir porque já sofre muito”, me poupe. Leia mais e veja mais filmes como Bacurau. Garanto que será uma pessoa melhor.