Até os Ossos

‘Até os Ossos’ ainda não estreou, mas já chega com um burburinho de ser um dos filmes mais interessantes do ano. Ele é a adaptação do livro de mesmo nome escrito por Camille DeAngelis e tem em sua direção Luca Guadagino. Ele já foi responsável por filmes como ‘Me Chame Pelo Seu Nome’ e o remake de ‘Suspiria: A Dança do Medo’, dois exemplares dos quais gosto bastante. Por ‘Até Os Ossos’ ele já ganhou o Leão de Prata de Melhor Direção no Festival de Veneza e pode vir a chegar forte nas grandes premiações de 2023. Potencial ele tem.

Sinopse: “Até os Ossos é a história do primeiro amor de Maren (Taylor Russell), uma jovem mulher aprendendo a sobreviver à margem da sociedade, e o intenso Lee (Timothée Chalamet), um andarilho sem amarras… Eles se encontram e se unem numa odisseia de mil e quinhentos quilômetros por estradas secundárias, passagens ocultas e alçapões na América de Ronald Reagan. Mas apesar de seus esforços, todas as estradas os levam de volta aos seus passados traumáticos, e a uma reta final que vai determinar se o amor deles pode sobreviver às suas diferenças.

Se me perguntarem do nada sobre o que é o filme eu responderia de supetão: “é um roadmovie sobre dois canibais descobrindo o amor”. Isso é vago demais, mas é mais ou menos isso mesmo. O grande lance dele é como isso é mostrado e como é a jornada de nossos protagonistas para chegarem nessa descoberta. Quando eu uso a palavra canibal, não é como o Hannibal, que come pessoas deliberadamente. Aqui tem uma explicação maior, mas sim, eles são canibais.

O romance e o horror se misturam facilmente e em momentos achamos tudo lindo e no outro apenas ojeriza, pois a produção não nos poupa de ver sangue. Fazendo uma comparação bem porca, ‘Até os Ossos’ é tudo o que ‘Crepúsculo’ poderia ter sido caso abraçassem o horror de criaturas míticas. Aqui, ele faz isso e certamente nos dá uma das melhores coisas produzidas esse ano. A condição de nossos protagonistas é tratada de um jeito muito mundano e real, caso existisse tais pessoas/seres.

Além desse viés mítico, temos também o psicológico de nossos personagens. Os dois têm histórias pesadas de vida e ver o amadurecimento de cada um juntos ou separados faz parte da narrativa. Entender o que fazem e tornar isso algo corriqueiro é difícil. Afinal, não é normal matar uma pessoa apenas para se alimentar. Esse dilema corre junto com o psicológico da dupla principal e aos poucos vamos entrando de acordo com eles e aceitando melhor o que fazem.

Dizer que o Timothée Chalamet (Duna) é um ótimo ator se torna batido e repetitivo por aqui. Ele arrasa muito no papel, mas devo vangloriar mais a atriz Taylor Russell (As Ondas). Ela é a nossa protagonista de fato e é junto dela que vamos entendendo como esse mundo funciona. Digo sem medo que ela arrebenta aqui e sua química com Chalamet é tão incrível quanto. Mark Rylance (Ponte dos Espiões) é outro ator que falar dele é como chover no molhado. Ele aparece um pouco menos, mas quando aparece, é possível sentir aquele frio na espinha de que tem algo errado. Todos perfeitos.

Certamente a história desse filme me marcou e quero muito conversar sobre ele por aí. Indico bastante a todos, mesmo sabendo que nem todo mundo pegará as nuances do porque ele é bom demais. Já posso ver pessoas dizendo que ele é uma porcaria. Julgarei todas essas pessoas em silêncio. Brincadeiras à parte, fica o registro de que é uma das melhores obras do ano. Amor e horror em uma junção inesperada e que dá muito certo demais.