A Vida Invisível de Eurídice Gusmão
Por que o titulo de um filme seria: “A Vida Invisível de Euridice Gusmão” se na verdade a protagonista é sua irmã Guida? A resposta é muito simples, porque Guida (Julia Stockler) contra todas as adversidades viveu, foi protagonista de sua própria história e senhora de seu destino. Já Euridice (Carol Duarte) viveu como ditava a sociedade machista e patriarcal da época. Esmagou seus sonhos em prol de ser mãe, filha e esposa. A mulher recatada que casou virgem, tudo como era considerado certo e costumeiro naquele tempo, ou seja, foi invisível. Seus desejos e sonhos não valeram de nada.
Sinopse: “Década de 1940. Eurídice é uma jovem talentosa, mas introvertida. Guida, sua irmã mais velha, é o oposto em temperamento e em convívio social. Ambas vivem sob um rígido regime patriarcal, o que faz com que trilhem caminhos distintos: uma decide fugir de casa com o namorado, enquanto a mais nova se esforça para se tornar uma musicista, ao mesmo tempo em que precisa lidar com um casamento sem amor.
A cena de abertura do candidato brasileiro ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro é espetacular, como se fosse um resumo do que virá a seguir. Inicialmente nos parece meio confusa, mas depois vai ganhando toda beleza ao ser compreendida.O diretor Karim Aïnouz, vem com esta tocante história de amor e amizade entre duas irmãs que foram separadas pelo pai. A figura que deveria amá-las e protegê-las, mas que se sentia no direito de tomar decisões por ambas e separá-las para não se sentir envergonhado perante a sociedade por sua filha Guida, ter fugido com um homem e voltado grávida sem marido.
Nas cenas de amor entre Euridice e seu marido Antenor (Gregório Duvivier) mesmo com sexo sendo consensual vemos como o marido se sentia no direito de ignorar os pedidos da esposa referentes ao próprio corpo, sendo esta impossibilitada de estabelecer limites. O sigilo profissional entre médico e paciente nem existia se a paciente fosse uma mulher. Todas as suas informações mais intimas eram deliberadamente compartilhadas com os maridos.
Nenhuma das duas irmãs queria ser mãe, o que parecia loucura para os olhos da sociedade nos anos 40. Mas exerceram a função da melhor forma que puderam, pensando no futuro dos filhos em primeiro lugar. Nos é mostrado o tempo todo o egoísmo e autoritarismo masculino daquele tempo. Porém com um certo exagero na dramaticidade para tornar a trama mais emocionante.
Outro tabu antigo abordado por Karin é como a mulher dos anos 40 que não estava perfeitamente feliz em ser esposa e dona de casa apenas era considerada louca e logo lhe era indicado um tratamento psiquiátrico e internação.