A Ilha de Bergman
‘A Ilha de Bergman’ é um típico filme de um amante do cinema que estreou há pouco tempo nas telonas. Principalmente se for um grande fã de Ingmar Bergman. Para quem não o conhece segue um breve resumo: ele foi um diretor sueco considerado um dos cineastas mais talentosos e influentes de todos os tempos. Entre seus filmes mais conhecidos temos O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), Cenas de um Casamento Sueco (1974), e Fanny e Alexander (1982) só para citar alguns. Ele foi responsável por mais de 70 filmes, além de ter dirigido mais de 170 peças. É nesse momento que devo entregar minha carteirinha de cinéfilo, pois devo confessar que nunca vi nenhuma obra dele.
Sinopse: “Um casal de cineastas americanos retira-se para uma ilha para escrever os argumentos dos seus próximos filmes, numa peregrinação ao sítio que inspirou Ingmar Bergman. Com o tempo, a realidade e a ficção começam a esbater-se com a paisagem selvagem da ilha como cenário.”
Depois de mostrar esse currículo fica claro que ele vai fascinar os fãs do diretor, mas não é necessário ter essa bagagem para apreciá-lo. Ele se passa justamente em uma ilha em que Bergman morou por um tempo, onde buscou muitas inspirações e referências, além de vermos várias locações em que seus filmes foram filmados. É quase como uma grande excursão sobre suas obras. É nesse ambiente que o casal de protagonistas vivido por Vicky Krieps (Trama Fantasma) e Tim Roth (Os Oito Odiados) vão para buscar essas mesmas inspirações para suas futuras produções.
Ele começa com essa premissa, mas quando chega em sua metade, praticamente vira um outro filme. A explicação é simples e não vai estragar nenhuma surpresa. Nossa protagonista está escrevendo um roteiro onde chegou em um ponto em que ela não sabe como terminar. Ao começar a contar a história para seu marido, entramos em uma outra trama que também se passa na mesma ilha. Nessa história os protagonistas são vividos pelos atores Mia Wasikoska (Alice no País das Maravilhas) e Anders Danielsen Lie (A Pior Pessoa do Mundo).
A princípio essa mudança pode causar uma estranheza, justamente por esquecermos os personagens que começamos acompanhando. Logo, já nos sentimos inclusos nessa obra e isso vira um excelente exercício de criação de personagens com todos os elementos que vimos do longa até ali. Isso é lindo, isso é cinema, mesmo que ele não seja comercial o suficiente para estar em uma sala de cinema de um shopping.
Não acho que ele seja um filme de fácil acompanhamento ou que seja orgânico o suficiente para não dar uma cansada. Sua lentidão faz parte da narrativa e isso é que o eleva. Muitas cenas parecem gratuitas, mas elas fazem sentido mais para frente. Uma simples contemplação de algo, vira um pensamento que se justifica com a criação de suas experiências e inspirações. Essas combinações acabam o transformando naquele tipo de cinema que amo cantar ao mundo, mas que me faz ser amplamente ignorado por não cair no gosto popular das pessoas.
Recomendo ‘A Ilha de Bergman’ para quem amar o cinema em sua cerne.