A Baleia

Se existe um filme que angariou bastante comentário antes mesmo de sua estreia, esse filme foi ‘A Baleia’. A atuação de Brendan Fraser (A Múmia) me parece ser um dos pontos mais unânimes desse longa que conseguiu 3 indicações ao Oscar desse ano. Entre essas indicações temos: Melhor Ator para Brendan Fraser; Melhor Atriz Coadjuvante para Hong Chau (Watchmen); Melhor Cabelo & Maquiagem, que realmente está incrível. Junta essas qualidades a sempre magnífica direção de Darren Aronofsky (Cisne Negro) e já temos um dos dramas mais interessantes do ano.

Sinopse: “Charlie (Brendan Fraser) é um professor de inglês recluso, que vive com obesidade severa e luta contra um transtorno de compulsão alimentar. Ele dá aulas online, mas sempre deixa a webcam desligada, com medo de sua aparência. Apesar de viver sozinho, ele é cuidado pela sua amiga e enfermeira, Liz (Hong Chau). Agora, ele irá buscar se reconectar com a filha adolescente e reparar seus erros do passado. Para isso, ele pede para que Ellie (Sadie Sink), sua filha, vá visitá-lo sem avisar sua mãe e ela aceita, com a única condição de que ele a ajude a reescrever uma redação para a escola.”

Em seus minutos iniciais nós já somos apresentados a vida de Charlie e esse pequeno período de tempo é o suficiente para ficarmos imersos em sua condição de vida. Toda a dificuldade de uma pessoa obesa é passada a ponto de se tornar um drama denso daqueles em que ficamos temendo o tempo todo pela vida de nosso protagonista. Impossível não ficar nervoso em certas sequências quando percebemos que um tombo simples pode significar que ele não consiga se levantar do chão.

Nesses minutos iniciais já descobrimos também que Charlie tem, talvez, dias de vida devido ao seu dia a dia de compulsão alimentar. O longa inteiro se passa durante 5 dias, dos quais começamos na segunda e acabamos na sexta. Por ter essa certeza da iminência de sua morte, ele resolve se reaproximar de sua filha, após tê-la abandonado para viver um novo amor. A relação entre os dois é muito difícil, mas é ela que guia toda a história e é a origem do nome do filme.

A primeira vista esse título pode soar até um pouco gordofóbico. Afinal, é a história de uma pessoa obesa. A grande jogada é que a origem é muita mais profunda do que podemos imaginar. A comparação é até mesmo feita pelo nosso protagonista, mas ela vem do livro ‘Moby Dick’. Onde Ishmael narra a busca por vingança de Ahab, um capitão de um navio baleeiro, pela baleia Moby Dick, que veio a arrancar sua perna em um encontro passado. Essa história é usada também como metáfora da relação entre Charlie e sua filha, e que nos reserva um momento bem tocante em seu final.

Não há dúvidas de que essa é a grande atuação da carreira de Brendan Fraser. Ele consegue passar uma calma ao mesmo tempo que nos deixa desesperados devido a sua compulsão alimentar. O elenco de apoio o ajuda a brilhar, mas até mesmo em seus momentos solitários, podemos ver a força da interpretação do ator. Brilhante, e acho que não tem como perder esse Oscar.

Darren Aronofsky não chega a ser um dos meus diretores favoritos, mas é inegável dizer que sua filmografia é incrível. Entre os meus favoritos posso citar ‘Réquiem para um Sonho’ (2000), ‘O Lutador’ (2008) e ‘Mãe!’ (2017). Seu modo de dirigir nem sempre é de fácil assimilação, mas aqui ele consegue passar toda a claustrofobia vivida por uma pessoa reclusa. Ele filma apenas em um cenário e tem a total noção do espaço em que ele pode filmar. Talvez não tenha sido lembrado nas premiações devido a ser muito contida, mas não deixa de ser um ótimo trabalho.

Essa época do ano em relação ao cinema é maravilhosa e nos traz muitos filmes que irão perdurar até dezembro como melhores do ano. ‘A Baleia’ certamente estará nessa lista como um dos melhores dramas que veremos nesse período. Além de uma história diferente, temos uma ótima direção e incríveis atuações que provavelmente serão lembradas por premiações. Já deixo a indicação para os amantes de um bom drama denso e que possui algumas camadas que irão ser descascadas por um tempo.