Pedágio

‘Pedágio’ chega aos cinemas já com um grande destaque em seu currículo. Ele já tinha sido exibido no Festival do Rio desse ano e ganhou quatro prêmios. Entre eles: Melhor Atriz para Maeve Jinkings (O Som ao Redor), Melhor Ator para Kauã Alvarenga (em seu primeiro longa-metragem), Melhor Atriz Coadjuvante para Aline Marta Maia (Serial Kelly), e Melhor Direção de Arte para Vicente Saldanha (As Quatro Irmãs). Vale mencionar também que esse é o novo trabalho na direção e no roteiro de Carolina Markowics, que repete aqui a parceria do excelente ‘Carvão’ ao lado da Maeve Jinkings. Já podemos dizer que essa dupla dá mais do que certo.

Sinopse: Suellen, cobradora de pedágio, percebe que pode usar seu trabalho para fazer uma renda extra ilegalmente. O seu objetivo é financiar a ida de seu filho à caríssima cura gay ministrada por um famoso pastor estrangeiro.

Esse filme consegue mostrar um retrato do Brasil que pode parecer absurdo, mas que existe muito: a mãe que tem vergonha de ser chacota no trabalho e entre amigos por ter um filho gay. Para ela, não importam as virtudes do filho, o que importa é o que os outros vão pensar e, de certa forma, mais rasa, em como seu filho vai viver assim no futuro. Para evitar tudo isso, Suellen (Maeve Jinkings) pretende colocar seu filho em um curso de cura gay.

É nesse momento que começa a escalada da hipocrisia. No início, Suellen termina com o seu então namorado Arauto (Thomas Aquino) porque descobre que ele está roubando e guardando objetos do roubo na casa dela. Ao descobrir que o preço do curso possui valores exorbitantes, ela volta atrás e arma um esquema com Arauto para ganhar uma renda extra. Por trabalhar em um pedágio, ela observava quem tinha objetos de valor e repassava a informação para ele. A pessoa de bem que resolve fazer algo ilícito para “salvar” o filho.

A hipocrisia não para por aí. A marca do “cidadão de bem” é vista como um avatar na personagem de Telma (Aline Marta Maia), melhor amiga de Suellen do pedágio. Em certo momento do longa, ela diz que está fazendo 35 anos de casada com o seu marido e que eles vão sair para comemorar. Nesse momento, muita coisa é dita pois um pouco antes descobrimos que ela trai o marido todos os dias, que está fazendo um tratamento espiritual para se curar da luxúria e que vai jantar no Madero para comemorar as bodas de casamento. Ainda vale mencionar que ela é crente.

Voltando para Suellen, a sua preocupação com seu filho acaba levando uma situação atrás da outra até culminar em seu desfecho exemplar. Uma lição é tirada e por mais que não concorde, ela terá que engolir seco para aceitar a situação atual em que foi posta. Um excelente filme nacional que mostra muitas nuances de pessoas humildes com pensamentos desvirtuados por pessoas que visam o lucro e não no real bem estar de seu rebanho. Tiquinho (Kauã Alvarenga), filho de Suellen, não tem nada de errado. Muito pelo contrário, ele mostra por A mais B que tem muito mais dignidade do que sua mãe, que se mostrava preocupada com o mundo. Em vez de proteger seu filho do jeito que é, preferiu tentar mudá-lo, mas quem viu sua vida ser mudada foi ela mesma, e não foi para melhor.