Retrato de Uma Jovem em Chamas
‘Retrato de Uma Jovem em Chamas’ estreou em nossos cinemas em janeiro de 2019. Como todo filme europeu e com uma linguagem não tão ágil ele foi passado completamente despercebido nas telonas (um erro cometido o tempo todo pelo brasileiro). Pérolas como essa são sempre renegadas e ficam longe do grande público. Até entendo alguns motivos, mas acaba sendo quase um crime. Vencedor de Melhor Roteiro em Cannes e dirigido e escrito por Céline Sciamma (Tomboy) temos uma linda história de amor entre duas mulheres, mesmo que esse não seja o destino de cada uma.
Sinopse: “Na França do século XVIII, Marianne (Noémie Merlant) é uma jovem pintora que recebe a tarefa de pintar um retrato de Héloïse (Adèle Haenel) para seu casamento sem que ela saiba. Passando seus dias observando Héloïse e as noites pintando, Marianne se vê cada vez mais próxima de sua modelo conforme os últimos dias de liberdade dela antes do iminente casamento se veem prestes a acabar.”
Esse filme me lembrou muito o ‘Me Chame Pelo Seu Nome’. Ele tem uma frase que me fez levar pra vida e que associei automaticamente a ‘Retrato de Uma Jovem em Chama’. Vou parafrasear: “Não tenha vergonha do seu amor, mesmo que tenha sido rápido. Pessoas vivem uma vida inteira e não conseguem achar o mesmo amor que você tem em apenas alguns dias”. Essa frase é de me fazer ficar com os olhos cheios de lágrimas e o mesmo exemplo ocorre aqui.
O amor improvável entre uma mulher que está prometida a um homem que não conhece e uma pintora responsável para pintar o seu quadro. Podemos sim nos apaixonar pelas pequenas nuances de uma pessoa e no momento que a pintora recebe essa função ela não deixa escapar um detalhe se quer. Incrível também como nós espectadores conseguimos notar isso no próprio quadro. As primeiras versões são sisudas e burocráticas enquanto na última versão conseguimos ver todo o esplendor da musa inspiradora e a paixão refletida na pintura.
Um amor desse tipo na época em que é passado está fadado ao fracasso, mas o que vemos é genuíno e nos aperta o coração pelo destino não ser como gostaríamos. Essa dor e paixão é refletida nos últimos momentos do longa em duas cenas que sem diálogo fazem todos entendermos o sentimento que estão sentindo. Uma obra de arte como poucos podem fazer e um esmero único colocado na tela da pintura e do cinema.
Muito do filme se deve a diretora, mas ele não seria tão perfeito se tivesse escolhido atrizes mais ou menos. Essa escolha também foi muito acertada pois elas conseguem se completar em cena. Noémi Merlant (As Bandeiras de Papel) que vive Marieanne e Adèle Haenel (A Garota Desconhecida) que vive Héloise estão perfeitas e compramos genuinamente suas atuações. Por alguns momentos acreditei fielmente que eram um casal verdadeiro, talvez isso seja ligado ao não conhecê-las em outro papel.
Como ponto negativo eu coloco apenas o ritmo. A sua morosidade proposital pode afetar um pouco ao longo dele. Isso deixa um pouco cansativo e com a impressão de que nada irá acontecer. Típico de um filme europeu, mas que em nenhum momento tira o brilhantismo da obra. Recomendo ao verdadeiro amante da sétima arte que certamente irá sentir e apreciar da forma devida. A vida nos dá momentos maravilhoso mas também nos dá dor eterna com a lembrança de algo bom findado. Curta ao máximo tudo o que você ame.
‘Retrato de Um Jovem em Chamas’pode ser encontrado no catálogo da TelecinePlay.