Zona de Interesse
‘Zona de Interesse’ já é um dos filmes mais importantes a estrear nesse início do ano. Ele chega aos nossos cinemas com 5 indicações ao Oscar. Entre elas: Melhor Filme, Melhor Diretor (Jonathan Glazer), Melhor Roteiro Adaptado (Jonathan Glazer), Melhor Filme Internacional e Melhor Som. Além dessa pompa, ele nos mostra um lado da 2º Guerra Mundial que nunca vimos em lugar nenhum e que praticamente mostra um mundo aquém do absurdo em que a morte é completamente banalizada. Sútil e poderoso o suficiente para a conferida ser obrigatória.
Sinopse: “Rudolf Höss (Christian Friedel), o comandante de Auschwitz, e sua esposa Hedwig (Sandra Hüller), desfrutam de uma vida aparentemente comum e bucólica, em uma casa com jardim. Mas, por trás da fachada de tranquilidade, a família feliz vive, na verdade, ao lado do campo de concentração de Auschwitz. O dia a dia destes personagens se desenrola entre os gritos abafados de desespero, de um genocídio em curso, do qual, eles também são diretamente responsáveis.”
Esse filme é baseado no livo homônimo escrito por Martin Amis lançado em 2014. Ele não é baseado em uma história real, mas poderia ter sido. O romance é ficcional e nem se torna tão absurdo assim se levarmos em conta sobre o que foi e o que é o nazismo. Vale deixar o aviso de que esse longa não é uma obra de fácil assimilação. Suas cenas não são dinâmicas. Muito pelo contrário, a câmera estática com poucos diálogos e muitas paisagens são predominantes, e tem todo o motivo para serem assim. Isso fez com que eu não gostasse tanto dele assim de primeira, porém, sua mensagem é muito maior do que o mero gosto de quem vos escreve.
Ver a vida cotidiana de uma família feliz alemã ao lado do maior centro de concentração da 2º Guerra Mundial beira a esquizofrenia. Uma linda casa, belos filhos e uma vida mundana é tudo o que Hitler prometeu, e essa família vive esse sonho. O contraste com o que acontece do outro lado do muro é assustador e bizarro. A tranquilidade em que você faz um bolo ou sai para pescar com seus filhos ao mesmo tempo em que no fundo temos uma grande chaminé queimando corpos humanos é aterrorizante. A ideia e a sugestão podem ser piores do que se fosse tudo mostrado na íntegra.
A indicação a Melhor Som no Oscar se faz merecido por um detalhe que me faz até arrepiar. O longa não possui uma grande trilha sonora, ele prioriza os sons ao redor. Então, quando estamos vendo uma criança brincar com toda a sua ingenuidade, podemos ouvir ao fundo, sons de tiros e de gritos. O horror está literalmente do lado dessa vida perfeita e tudo isso é traduzido com esses sons ao longe. Brilhante e impactante. É preciso nervos de aço para aguentar essa pancada no estômago. Voltando pra falar um pouco na trilha sonora, basta dizer que ela não é tão importante, mas quando toca, seus nervos tremem também, pois é sinistra e te causa um certo incômodo.
A direção de Jonathan Glazer (Sexy Beast) também é boa demais por um detalhe. Ele não marcou as cenas como deveriam. O diretor colocou várias câmeras e microfones espalhadas pela casa para captar os vários momentos distintos dos personagens a ponto de os próprios atores não saberem se estavam sendo gravados ou não. Deixou eles viverem como essa família feliz. Isso nos dá todo aquele tom de um dia a dia comum com questões mundanas. Seria tudo normal e belo se não fosse pelo genocídio rolando literalmente ao lado deles. Singelo e pesado.
Não acho que o longa seja para todos. Como falei, ele pode causar uma estranheza, pois não é convencional. Parece não ter um roteiro exato. A sensação de que foi tudo improvisado é grande e isso nos dá uma imersão maior do que estamos vendo. Tive uma barreira com ele por ser muito intimista e vago sobre a história em si. A verdade é que eu o vi de forma errada. É preciso digeri-lo para entender sua ideia e depois que isso é feito, nada menos do que genialidade passa em minha cabeça.
As cenas finais finais nos guardam um momento emocional bem grande junto com um enorme silêncio. A história precisa ser mostrada para que não possamos repeti-la. Por esse fato, ‘Zona de Interesse‘ precisa reverberar mais por ai. Filmaço, mas que talvez nem todos entendam isso de primeira.