Parasita
O fim do ano vai chegando e a impressão é que todos os filmes bons programados para sair nesse período já passaram no cinema. Ainda assim, temos aquelas surpresas que não sabemos de onde vieram. “Parasita” estreou sem nenhum alarde por aqui, quase escondido, mas graças ao pequeno murmurinho nas redes sociais me fez prestar atenção nesse lançamento. O grande ganhador da Palma de Ouro em Cannes enfim estreou, sendo o primeiro longa sul-coreano a ganhar o prêmio de maior prestígio do festival. Já digo que é imperdível.
Sinopse: “Ki-taek tem uma família unida, mas estão todos desempregados e as suas perspectivas futuras são negras. O filho Ki-woo é recomendado por um amigo – que frequenta uma prestigiosa universidade – para dar aula de inglês para uma adolescente de família rica, o que vem desencadear a esperança de um rendimento regular na família. Portador das expectativas familiares, Ki-woo dirige-se à casa dos Park para uma entrevista de trabalho. Chegando à casa do Sr Park – dono de uma empresa global de tecnologia informática – Ki-woo conhece Yeon-kyo, a bela e jovem dona da casa. Este primeiro encontro entre as duas famílias vai provocar uma improvável cadeia de incidentes.”
Bastam 5 minutos para entendermos o nome do filme, mesmo que esse entendimento seja apenas pincelado e que isso vá ser mais desenvolvido com o tempo. Ele começa de um jeito em que pensamos que será a linha narrativa até o final e quando menos esperamos é esfregado na nossa cara o quanto estamos errados. Toda essa reviravolta nos causa um misto de sensações. Uma hora estamos rindo e no momento seguinte estamos com a mão na boca para não gritar. Outra hora estamos com raiva e logo após entendemos o motivo do personagem fazer o que fez. Todo esse emaranhado de emoções me fez sair do cinema angustiado e ao mesmo tempo feliz por ter visto algo maravilhoso.
O responsável por essa obra se chama Bong Joon Ho, diretor sul-coreano responsável por longas excelentes como O Hospedeiro (2006), Expresso do Amanhã (2013) e Okja (2017, esse da Netflix). O que todos tem em comum é o fato deles sempre terem uma discussão de classe embutida neles. Aqui, a diferença de classes é quase o mote principal para a história ser desenvolvida, isso se realmente não for o motivo principal para tal. Ver todas essas diferenças entre pobres e ricos nos faz pensar que a única real diferença entre eles é o valor monetário que possuem. Sabendo disso, o que você está disposto a aceitar para possuir um pouco mais de dinheiro? Não dar valor ao que tem e invejar a posse dos outros é algo humano que carregamos quase que por instinto. Saber o que fazer com esse sentimento é o que nos faz diferente.
Se vale a pena? Vale muito. Uma ótima surpresa para uma época escassa de filmes realmente bons. Acredito que será recompensado com essa histórica cheio de reviravoltas e provavelmente sairá como eu do cinema. Aproveito para indicar outros filmes coreanos. Além dos já citados acima, também temos outros excelentes como Oldboy (2003) que é simplesmente incrível; e O Motorista de Táxi (2017), que conta uma inacreditável história sobre o governo ditatorial de Chun Doo-hwan. Se tiver preconceito, pare agora e vá ser feliz vendo excelentes filmes.