O Poço
Mais um filme do gênero “pós horror”, termo criado para enquadrar a nova onda de filmes de terror independentes que tem como característica a criação de uma atmosfera pesada, que causa estranheza e com faltas de sustos, subvertendo as regras principais de filmes clássicos de terror. Como alguns exemplos temos: A Bruxa (2015), Corra! (2017), Hereditário (2018), entre outros. ÓBVIO, todos são excelentes na minha opinião, mas na maioria dos espectadores pode causar sensações de repúdio e uma sensação de decepção ao final.
Sinopse: “Exibido pela Netflix, O Poço conta a história de um lugar misterioso, uma prisão indescritível, um buraco profundo. Dois reclusos que vivem em cada nível. Um número desconhecido de níveis. Uma plataforma descendente contendo comida para todos eles. Uma luta desumana pela sobrevivência, mas também uma oportunidade de solidariedade.”
O sentimento de estranheza já nos é mostrado desde a primeira cena. Não entendemos direito que lugar é esse e para o que ele serve. Apenas aceitamos as regras impostas e daí seguimos a história de Goreng, vivido por Ivan Massagué (O Labirinto do Fauno). O que leva as pessoas a toda essa selvageria e falta de preocupação com o próximo? A metáfora é clara: quem está por cima não se preocupa com quem está embaixo. Se está por cima você está usufruindo do bom e do melhor, mas se estiver por baixo você não terá nada porque quem poderia te ajudar não se importa. O transporte para a vida real é ÓBVIO e cruel. Como mudar o ser humano? Como deixá-lo solidário a dor do próximo? Uma frase me marcou no longa: “Mudanças nunca acontecem de forma espontânea”.
É difícil comentar muito sobre ele sem dar spoiler, mas vou dar umas dicas de entendimento sobre ele (pelo menos, da minha versão). Se atentem ao livro que Goreng leva com ele: Dom Quixote de La Mancha. Atentem que o Goreng tem um visual muito parecido com o personagem, e este é conhecido por suas visões fantasiosas, enquanto seu fiel companheiro Sancho Pança era conhecido por estar com os pés na realidade. Ao acordar ele dá de cara com Trimagasi, seu companheiro de cela, e daí ligar ele a Sancho Pança é bem interessante. Outras coisas que quero levantar para uma possível discussão mais para frente são: A menina existe? A panacota chegou inteira lá em cima e um mísero detalhe acabou com tudo? O andar 333º é o inferno? (333 andares, com cada 2 por andar, daria um resultado de 666). Tudo é levado em conta ou será tudo até mesmo um devaneio meu?
Infelizmente, quando eu comecei a abraçar o filme, acabou. Não sem antes deixar muitas dúvidas em nossas cabeças. Por não ser um filme com um final direto, e sim aberto a interpretações pode causar indagações do tipo: “uer, acabou assim? Não entendi.” Por isso digo, não é um filme para qualquer um, mas mantenha a mente aberta e faça você mesmo a sua interpretação e converse com alguém que já tenha visto. A visão do outro pode deixar a sua experiência melhor ainda. Antes de dizer que é uma porcaria, reflita um pouco.
Com a falta de estreias no cinema, ÓBVIO, voltamos todas as nossas atenções para o streaming, principalmente a Netflix, que ainda pode lançar filmes inéditos de qualidade para o lazer de casa.
Obs: Ao ler essa crítica, venha conversar comigo. Talvez você mesmo possa me esclarecer certos pontos.