Nós

Yin e Yang, Caim e Abel, várias culturas e obras abordam o conceito de dois lados da moeda. É justamente nisso que se baseia este filme. Muitos de nós tem “medo” de nossas personalidades ocultas, convivendo apenas com os nossos egos, muitas vezes temos medo do id. No livro “O Médico e o Mostro”, Dr.Jekyll cria a teoria de que para que sejamos fundamentalmente bons e tenhamos apenas virtudes, é preciso isolar nossa parte má em uma cópia, assim, todos os vícios, hábitos ruim e intenções impuras ficariam isoladas nela, para que em nós sobrasse apenas o bem. “Nós” aborda bastante essa ideia de cópia que nos assusta, aqui temos o tempo todo Jekyll e Hyde.

Do mesmo diretor de “Corra!” (Jordan Peele), temos um terror eletrizante e também psicológico.  O autor nos convida a pensar sobre como seriam as pessoas tidas como marginais se a elas tivessem sido dadas as mesmas oportunidades que tiver as “pessoas de bem”. Com certeza as críticas ocultas nele não são de fácil entendimento, mas acredito que até para quem não encontrá-las a ida ao cinema vale muito a pena.

 O que me chamou atenção no trailer foi querer ver como conseguiriam deixar Lupita Nyong’o feia, alias, menos bonita porque feia não é possível. Eis que o longa tem muito mais que isso. O elenco composto por vários conhecidos nossos como Winston Duke (Pantera Negra) e Elisabeth Moss (Os Contos da Aia), conta também com expressão corporal, dança, um belo trabalho de câmera e uma trilha sonora extremamente condizente, tal qual em “Corra!”.

Quase duas horas passaram voando neste filme que mistura momentos desesperadores de roer as unhas, onde literalmente eu fui parar na beira da poltrona, com momentos cômicos pontuais e nem um pouco desnecessários. Temos um plot twist que eu achei um pouquinho obvio, mas nem por isso o filme perde seu status de obra-prima.