Não Se Preocupe, Querida
‘Não Se Preocupe, Querida’ é um filme que estava na minha lista já há alguns meses. Gostei demais do trailer e criei expectativas altas. Ele estreou recentemente no Festival de Veneza e foi recebido bem friamente pela crítica especializada que acabou dando uma sucessão de notas baixas. Os boatos das tretas dos bastidores estavam sendo falados mais altos do que a própria produção. Esse acúmulo de coisas ruins me fez vê-lo com uma expectativa muito mais embaixo. Sorte a minha, porque o que eu vi foi um excelente filme e que tenho uma possível teoria pela recepção baixa dos críticos.
Sinopse: “Uma dona de casa dos anos 1950, que mora com o marido em uma comunidade experimental utópica, começa a se preocupar com a possibilidade da glamorosa empresalocal estar escondendo segredos perturbadores.”
Eu amo filmes que se tratam de utopia, pois isso não existe e logo o caos será instaurado. Isso é uma regra. Ainda em seu início uma pergunta é feita: “Qual o maio inimigo do progresso?” e a resposta dessa questão seria “caos”. Embora não pareça nem um pouco essa é toda a essência do longa. Ver os personagens vivendo felizes e amigáveis em uma cidade em pleno deserto nos anos 1950 já nos dá um prenúncio de que existe algo realmente estranho nesse lugar.
Não demora muito para alguns eventos bizarros começarem a aparecer. E nós, junto de Alice, personagem vivido pela Florence Pugh (Viúva Negra), começamos a tentar entender o que está acontecendo. Talvez algum ás do gênero consiga decifrar rapidamente o segredo. Eu desvendei parte dele, mas mesmo assim não estava preparado para a revelação final. É nesse ponto que começa uma ação desenfreada e uma torcida a mais para a nossa protagonista sair desse inferno.
Como toda boa ficção que se preze, ele te faz pensar. Assuntos como controle e livre arbítrio certamente virarão debate após findada a projeção. O detalhe maior é que isso está na nossa cara o tempo todo e não conseguimos entender a mensagem de imediato. Até que ponto podemos dizer que uma vida feliz é aquela em que só há felicidade. As agruras da vida também precisam conviver lado a lado do ser humano para ele poder crescer. Tirar as escolhas pessoais de cada um com um pretexto de um bem maior pode soar egoísta e até muito maléfico.
Ele não me decepcionou porque ele foi justamente o que eu esperava. Um thriller psicológico da melhor qualidade. A minha teoria sobre a grande crítica não ter gostado se deve por ser um filme que ataca o machismo em sua essência. Os anos 50 são conhecidos por esse movimento que a mulher deveria servir ao homem sem reclamar e sem direito a errar. Esse escolha é proposital e por mais que não notemos a mensagem vindo, ela chega no final e acaba sendo um golpe muito bem dado em pessoas que ainda acham que a mulher serve apenas para dar apoio ao seu marido.
Vale um destaque para a excelente direção de Olivia Wilde que conseguiu me deixar vidrado em todos os detalhes em tela. A ela vale o elogio não só pela direção, mas pela atuação também. Seu papel é pequeno, mas importante no desenrolar da trama. Além dela vale os elogios para Chris Pine (Star Trek) e Harry Styles (Dunkirk) que também conseguem levar os seus papéis muito bem.