La Casa de Papel

Bom, se você ainda não assistiu La Casa de Papel, está perdendo uma das grandes séries dos últimos anos. Em princípio, toda série que ganha hype muito rápido pode gerar desconfianças. Esta trata de um roubo à Casa da Moeda da Espanha, o maior roubo que será tentado na história europeia.

 

Particularmente não me agradam as séries que fazem sucesso repentino. Muitas vezes me decepciono. Todavia, La Casa de Papel é algo realmente incrível. Em cada episódio pergunto-me se ando viajando enquanto assisto e se as pessoas que estão assistindo, em geral, entendem com o mesmo contexto e as mensagens subliminares.

 

La Casa de Papel começa com 13 episódios, chamados de Parte I, a Netflix já liberou a Parte II com outros 9 episódios que dão fim ao roubo. Sendo assim, a primeira parte apresenta seus personagens e a ideia em si. Descreverei as coisas que me vieram à cabeça enquanto assistia.

 

A invasão da Casa da Moeda da Espanha faz uma referência às guerras, em especial com a Segunda Guerra Mundial. A série apresenta um grupo de 8 bandidos que são reunidos por um desconhecido. Esse desconhecido se denomina Professor e cria regras básicas para que os outros sigam. As regras giram em torno de envolvimento pessoal. Para isso, cada um escolhe o nome de uma cidade para ser seu nome. Todos os personagens fazem jus ao seu nome de cidade, suas ações, personalidade, atitudes são muito parecidas com as cidades no cenário de guerra. Adiante, seguirei mostrando um pouco de cada personagem.

 

Professor (Álvaro Morte), do latim professōris, “aquele que se dedica a”. Logicamente que isso faz sentido por si só. Um homem inteligente demais, que pensou minuciosamente em cada detalhe da invasão e justamente quando o plano lhe falta a sorte lhe sobra. Fica fora da Casa da Moeda moldando a guerra de forma estratégica de longe. Em suas horas vagas o Professor usa um nome falso de Salvador Martin, plausível de duas referências: a primeira, à San Martin, militar do exército espanhol, político, mas também lembrado como libertador das Américas. Foi decisivo para independência das colônias exploradas pela Espanha tais como Argentina, Chile e Peru. A segunda, ao pintor Salvador Dalí. Se você ainda não assistiu a série, no primeiro episódio quando entram na Casa da Moeda com máscaras, escolhem o rosto de Salvador Dali.

 

Berlim (Alemanha / Pedro Alonso), comandante direto do Professor dentro do plano. Berlim capital da Alemanha, tem uma representação grande na 2ª Guerra Mundial, onde o maior líder do Eixo vivia. De Berlim vinham as ordens para atacar ou para abortar a missão. Confiante, acredita nos planos e que sairá vitorioso do combate.

 

Tóquio (Japão / Úrsula Corberó), o nome remete logo ao Japão, mesmo a atriz não tendo nenhuma característica nipônica. Personagem com personalidade forte porém descontrolada, Tóquio demonstra desespero por vários momentos em virtude de seu envolvimento pessoal com os outros personagens, em especial com o namorado Rio. Tóquio bota quase tudo a perder algumas vezes, tão louca naquela realidade quanto atacar Pearl Harbor. A resposta as ações de Tóquio, trazem consequências tão duras quanto as bombas jogadas ao Japão. Toda a série é narrada por Tóquio, mostrando a missão da personagem sobre tudo o que acontece mesmo quando ela não está presente.

 

Nairobi (Quênia / Alba Flores), o povo do Quênia lutou na IIGM ao lado dos ingleses, de quem eram colônia, e ficaram conhecidos como os Askaris. Tinham a esperança que depois da Guerra tudo seria melhor. Não ocorreu isso na história mundial. Houve então o movimento que ficou conhecido como MAU MAU e logo em seguida a independência. A personagem se mostra forte, sensata e busca uma vida melhor para seu filho que teve de abandoná-lo as 3 anos de idade e agora estaria com 7. Pronta para seguir em frente diante do comando.

 

Moscou (URSS / Paco Tous), a Rússia não queria entrar na Guerra. Tentou a paz com todos os lados, assim como o personagem que se mantém calmo e trabalhando na sua parte. Não quer confusão e é parte importante do plano para a fuga, sendo muito importante na série.

 

Denver (USA / Jaime Lorente), em minha opinião, Denver vai além de uma cidade no Colorado, em minha análise faz uma referência a Denver “Bull” Randleman, um ilustre e importante soldado paraquedista americano na Invasão da Normandia. Randleman foi condecorado com “purple heart”, uma medalha extremamente importante para os militares americanos. Sua participação na Guerra foi importante tal qual o personagem para a série. A história nos conta que Denver Randleman conseguiu a tranquilidade no pós guerra, vindo a ser um homem de negócios até o fim de seus dias. O personagem justamente busca isso, inclusive em discussões com seu pai (Moscou) isso fica claro pois como ele mesmo diz ‘não quero ser um merda’.

 

Oslo (Noruega / Roberto García), uma cidade que também fez parte do cenário da IIGM, uma das primeiras cidades conquistadas pela Alemanha em 1940. O personagem é forte e toma conta dos reféns, tendo sua relevância para o grupo.

 

Helsinki (Finlândia / Darko Peric), fiel ao Eixo, a Finlândia lutou junto com a Alemanha na Guerra de Inverno, alguns meses da Guerra Mundial. O personagem de Helsinki, também se mostra leal ao ideal e justamente é o ‘homem de execução’ de Berlim.

 

Rio (Brasil / Miguel Herrán), tão importante quanto o Brasil na Segunda Guerra Mundial, Rio é frágil e quase ficou de fora dos planos do Professor, é o melhor no que faz mas não consegue ver o potencial que tem. Oscila de lado e de perspectiva conforme sua cabeça conturbada. O elo mais fraco da corrente, palavras do próprio Professor, o Rio (Brasil) ficou em cima do muro por muito tempo durante a II GM, ao comando de Vargas que negociava com o Eixo e os Aliados. O personagem também não consegue se decidir, por vários momentos lembra da família e pensa até em se entregar.

 

Inspetora Raquel Murillo (Itziar Ituño) é a chefe da polícia no caso. Raquel tem que tomar decisões rápidas enquanto negocia com os sequestradores. Vive um drama pessoal em relação ao pai de sua filha, seu ex-marido e também policial. Encontra-se eventualmente em um bar com Salvador Martin (Álvaro Morte) sem saber que ele está envolvido diretamente no caso e todos os conhecem como Professor.

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A música tema de abertura My Life is Going On (Cecilia Krull) finamente escolhida, pois a vida dos personagens realmente está acontecendo. E assim como o que é cantado na música, não estão se importando nem um pouco com as escolhas, se são certas ou erradas.

 

Ainda sobre trilha sonora, Bella Ciao que os personagens cantam o tempo todo é um símbolo da resistência italiana contra o Fascismo durante a IIGM, em sua letra “Querida, Adeus” fala de morte, mas também de vida, que mesmo morrendo seria uma flor de resistência.

 

Com esses personagens a série aborda uma questão totalmente diferente do comum, se perguntando quem está de fato certo e quem está errado. A empatia pelo drama pessoal de cada personagem e o cuidado deles perante o todo de não saírem com a imagem meramente de bandidos nos fazem torcer para que tudo dê certo no final.

 

Caso não tenha assistido ainda vale a pena entrar nesse golpe e se emocionar no jogo de gato e rato espanhol tão falado. La Casa de Papel atingiu como a produção não americana mais assistida. Você vai ficar fora dessa? Conta pra gente o que você achou. Viajou dessa forma também?