Frankenstein de Mary Shelly

Considerada a primeira obra de ficção científica, “O monstro de Frankenstein” publicado em 1818 por Mary Shelley entrou para os anais da literatura gótica, recebendo sua primeira adaptação cinematográfica em 1910, um filme mudo dirigido por J. Searle Dawley. Porém, seu mais famoso exemplar foi em 1931, protagonizado por Boris Karloff, em seguida, recebeu uma sequência em 1935, “A Noiva de Frankenstein”. Dentre diversas outras adaptações, incluindo o cult de contracultura, “Blackenstein” (1973), “Frankenstein de Mary Shelly”, dirigido e protagonizado por Kenneth Branagh, é uma releitura interessante do clássico, que parece mesclar “Frankstein” de 1931 e a aparição de sua noiva em 1935.

Na trama, Dr Victor Frankenstein é obcecado em parar a morte, desde o falecimento de sua mãe. Um dia decide criar vida, mesclando partes de corpos, eis que surge sua criatura. De tão horrenda ele a descarta. A criatura ao perceber que nunca fará parte do mundo por causar horror e repulsa, exige que seu criador lhe de uma companheira, enquanto isso mata quem é querido à Victor.

Uma obra pode e deve receber diversas leituras, a que parece se destacar é justamente a simbiose entre criador e criatura que vê em seu mostro a personificação de sua própria monstruosidade interna e os reflexos da sociedade doente em que vivem. No início do século 19 em que a obra foi escrita, o roubo de corpos era algo muito recorrente, eles normalmente eram entregues a médicos e cientistas para estudo.

 

A direção de Branagh faz lembrar o estilo de Tim Burton, não só pela presença de Helena Bonham Carter, mas também, pela aura, estética e tons acinzentados utilizados por Burton em “A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça” (1999). O longa marca a quinta direção de Branagh, muito antes do premiado “Belfast” (2021). Visto pelos panos de fundo de seus filmes, fica clara sua predileção por temas que mostram a dor e a importância da figura matriarcal.

 Com roteiro adaptado de Frank Darabont (A Espera de Um Milagre) e brilhante interpretação de um Robert De Niro quase irreconhecível como o monstro, ao ponto do filme ter recebido indicação ao Oscar de maquiagem, tanto a obra fílmica quanto o livro fazem lembrar “O Médico e o Monstro” (199) seu contemporâneo que junto com “Drácula” de Bram Stoker e “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, formam a tétrade mais famosa e adaptados da literatura gótica.