Esta é a sua morte

Guerra entre o Cinema e a TV em um filme fácil e sensacionalista

Em meados dos anos 50 quando a TV timidamente mostrava suas garras, Hollywood testemunhou seu poderio ruir lentamente. Desde então a TV tornou-se a maior inimiga da indústria cinematográfica norte americana que está sempre alerta para desacreditar o principal veículo de comunicação de massa do planeta. Um bom exemplo disso está no oscarizado, “Rede de Intrigas” (Network, 1976) onde um desesperado Peter Finch anunciava ao vivo seu suicídio na frente das câmeras.

Em “Esta é a sua Morte” (This is your Death no original) o ator, produtor e também diretor Giancarlo Esposito (mais conhecido pelo vilão Gus da série Breaking Bad) também demoniza a TV sob um viés pessoal, afinal ele mesmo é cria do veículo e sabe como as coisas funcionam. Aqui ele faz um desabafo de como é difícil sobreviver em um meio extremamente competitivo onde apenas o que importa são os altos índices de audiência. A trama de “Esta é a sua Morte” fala do extremismo da criação de um reality show onde as pessoas que perderam toda a esperança na vida, se suicidariam em frente às câmeras, ao vivo, despertando assim a condescendência do público e consequentemente alavancando a audiência. O tema por si só faz uma boa reflexão sobre o papel da TV na carência daquele espectador ávido pelo consumismo rápido, fácil e barato, mas Esposito incrementa seu filme-penitência com uma evidente crítica ao atual momento político norte americano. De um lado temos Mason Washington (interpretado pelo próprio Esposito), um cidadão afro descendente com 2 filhos que trabalha em vários empregos para sustentar sua casa e pagar o plano de saúde. Atingido em cheio pela austeridade pública, Mason se humilha diariamente, mas não se curva diante das ameaças (geralmente feitas por brancos). Do outro lado, temos o apresentador Adam Rogers (Josh Duhamel), branco, loiro, olhos azuis, rosto simétrico, atlético, ganancioso, sedutor e sempre impecável, um anjo exterminador que explora o sofrimento alheio. Estes dois personagens são verdadeiros contrastes de uma América polarizada por um presidente branco, loiro, rico e ganancioso que ficou famoso por um reality onde demitia os candidatos a um cargo em uma de suas empresas e um ex presidente afro descendente, conciliador, bom pai de família, caseiro e criador de um efetivo sistema de saúde gratuito (a lei de proteção e cuidado ao paciente, mais conhecido como “ObamaCare” que beneficiou 20 milhões de cidadãos). Não é coincidência que Mason tenha o sobrenome da capital norte americana e que a figura de Adam Rogers seja uma representação gráfica de Trump cujo plano é desmantelar e substituir o projeto-lei.

O roteiro do estreante Noah Pink e do recém formado Kenny Yakkel (que trabalhou anos como técnico de câmera) contém excessos e gorduras melodramáticas que acabam funcionando a favor da narrativa mesmo com algumas situações inconsistentes e personagens mal elaborados como o da produtora Ilana Katz (Famke Janssen) cuja função principal acaba sendo subjugada pelos outros personagens.

“Esta é a sua Morte” é um filme de formato fácil e com um tremendo apelo popular, exatamente como é a televisão em seus programas sensacionalistas, mas fica claro ao término da projeção que a guerra entre o Cinema e a TV está longe de acabar.


Esta é a sua Morte (This is your Death)

Eua, 2017. 104 min

Direção: Giancarlo Espósito

Com: Josh Duhamel, Giancalo Esposito, Famke Janssen, Sarah Wayne Callies