Cabeça de Nêgo
‘Cabeça de Nêgo’ é um filme nacional oriundo do Ceará que estreou em nossos cinemas em outubro de 2021. Sem nenhuma propaganda e sem marketing algum, chegou e passou completamente despercebido pelo grande público. Não serei hipócrita e vou dizer que até mesmo por mim ele passou batido. Ele me chamou atenção somente quando ele foi escolhido como melhor longa-metragem brasileiro de 2021 pela Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema). Peguei a dica, assisti e o seu resultado final me agradou bastante.
Sinopse: “Inspirado por um livro dos Panteras Negras, o jovem Saulo Chuvisco tenta impor mudanças em sua escola e acaba entrando em conflito com alguns colegas e professores. Após reagir a um insulto racista, ele é expulso, mas se recusa a deixar as dependências da escola por tempo indeterminado, dando início a uma grande mobilização coletiva.”
Ele me agradou bastante e sem fazer esforço. É uma história simples, pequena, mas com um grande poder. Nós vemos aqui o que gostaríamos de ver por aí em um mundo real: as pessoas se revoltando por causa de um motivo mais do que justo. Tudo começa por causa de uma ofensa racista, mas escalona para algo muito maior como reivindicações de melhorias no colégio em que se passa toda a trama. Essas reivindicações que por acaso são o mínimo que um ser humano merece. Clamar pelo mínimo soa humilhante, mas se não fizer isso, quem vai?
O título nos remete aquela bombinha com um largo estrondo que vemos por aí em festas juninas. Quando criança eu odiava ela pelo barulho muito alto que reproduzia e essa é a ideia aqui. Fazer barulho e incomodar quem está vivendo de forma complacente. O que irrita na trama é ver o diretor da escola junto com a maioria dos professores votando pela expulsão de um adolescente que só quer o mínimo para viver de forma digna. Todos eles brancos, lógico, deixando apenas os funcionários pretos com um mínimo de bom senso e de querer fazer o certo.
São alusões muito claras sobre o mundo que vivemos e tem que escancarar mesmo essa hipocrisia. O sistema é falho e todo cidadão de bem parece não estar nem aí, já que não o atinge diretamente. O pobre preto sempre será o culpado. Esse longa me inflamou e levei tudo para o pessoal, ainda mais por estar cansado do que o venho vendo por aí. Muitas injustiças e falta de punição para quem claramente está cometendo crimes. A maioria das pessoas ruins não estão nas favelas, mas sim nos altos condomínios milionários da Barra da Tijuca.
Me deixei levar pela emoção, mas é isso. Esse é um filme que me agradou e que me fez sentir revolta. Como falei no início, ele é pequeno, mas com uma história que mexe com quem está vendo.
“Você pode prender um revolucionário mas não pode prender a revolução”. É com essa frase de Fred Hampton que encerro essa resenha. Para quem não sabe quem ele é, recomendo que veja logo depois desse aqui o filme ‘Judas e o Messias Negro’.
‘Cabeça de Nêgo’ se encontra disponível no catálogo da Globoplay.