Batman
Quando se elege um ator para interpretar o Batman, assim como quando se escolhe um novo James Bond, o público fica em polvoroso, dividido e se pergunta: “Tem ou não tem cara de Batman”. Muito se discutiu quando Tim Burton escalou Michael Keaton (Birdman) para interpretar o herói mascarado, pelo físico e altura do ator. A atuação de Keaton, acabou quebrando barreiras pois por seu talento, ficou gigante em tela. No novo filme, o conflito era ainda maior, um ator que ganhou fama ao fazer um papel controverso na “Saga Crepúsculo”. Apesar de já ter se distanciado disso há muito, e Robert Pattinson ter mostrado a que veio em filmes como “Tenet” e “O Farol”, a dúvida continuava. Seria o jovem ator capaz de agradar aos fãs? A resposta é individual, mas certamente ele deu conta de ser um jovem Batman e Bruce Wayne, neste filme praticamente de origem. Atormentado, revoltado e até mesmo um pouco grosseiro aos moldes de “O Corvo” (1994). O filme é adaptação dos quadrinhos com algumas modificações e ainda pega um pouco da história do livro “Os Wayne de Gotham” de Tracy Hickman.
Mais uma vez a cidade de Gotham vem representar uma antiga Nova York, dominada por bandidos, mafiosos e com desigualdade social gritante. O vilão da vez é o Charada, interpretado por Paul Dano (Pequena Miss Sunshine). Porém, assim como o Coringa de Joaquin Phoenix, ele é vítima das circunstancias e do meio em que cresceu. Apesar do físico do ator ser super condizente com o personagem, e sua história de fundo ser interessante, acaba sendo entregue um vilão com pouco carisma, e “coringado” demais para ser Charada
Os pontos mais altos do longa são atuação de Zoë Kravitz na pele de Selina Kyle, a Mulher Gato e as cenas do casal. Parece que finalmente o público recebe uma real visão do par. Mostrando que ambos são praticamente a mesma pessoa. Crianças órfãs, sofridas, que aprendem a lutar, andam pelas corruptas ruas de Gotham com roupas pretas e adotaram a persona de criaturas noturnas, morcego e gato preto. A grande diferença? Bruce sempre viu o mundo de sua alta casta, já Selina é vítima da tal cidade e sua desigualdade. Ambos os personagens estão sempre no limite, como é bem mostrado no longa. Bruce é um herói que está sempre à beira de se tornar um vilão. Já Selina é uma vilã nos moldes de Robin Hood, sempre à beira de se tornar uma heroína. A química do casal na tela definitivamente convence.
As cenas de perseguição de carro e de luta deixam um pouco a desejar para os mais ávidos por ação e a trama demora um pouco a engatar, mas por fim, temos personagens profundos, diálogos interessantes e o filme no geral promete agradar gregos e troianos. Algumas cenas que envolvem Jim Gordon (Jeffrey Wright) e o Pinguim (um irreconhecível Colin Ferrell) arrancam boas gargalhadas.
Pode deixar quem amou a trilogia mais profunda de Christopher Nolan um pouco decepcionado, mas é preciso lembrar que este é apenas um jovem Batman, ainda sem muito de sua bagagem. Nos é mostrada a famosa “jornada do herói” (comum forma de narrativa onde o protagonista parte em uma aventura, encontra percalços e retorna modificado e vitorioso por conta do que viveu), como um Bruce amargurado que clama por vingança, acaba se tornando um herói que guia seu povo. O filme é um pouco longo demais, o que acaba lhe conferindo algumas barrigas e cenas arrastadas, mas ainda assim, vale a ida ao cinema