Anora
Anora tem sido um dos filmes mais falados por aí desde 2024. O filme ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cinema de Cannes e com isso caiu automaticamente na listinha de todos que querem ver um bom filme. Seu sucesso foi tanto que conseguiu 06 indicações ao Oscar 2025. Entre as indicações temos: Melhor Ator Coadjuvante para Yura Borisov, Melhor Roteiro Original, Melhor Edição, Melhor Atriz para Mikey Madison, Melhor Direção para Sean Baker e Melhor Filme. Independente das premiações em que vem aparecendo, acho que Anora é um bom filme com um grande toque intimista com a queda do grande sonho americano.
Sinopse: “Anora (Mikey Madison) é uma dançarina erótica que faz alguns programas sexuais e que reside no Brooklyn. Em um dia comum de trabalho acaba conhecendo Ivan (mark Eydelshteyn), filho de um famoso oligarca russo. Seus encontros acabam sendo constantes até o ponto em que Ivan pede Anora em casamento e os dois resolvem finalmente se casar em Vegas em um ato de puro impulso. Assim que a notícia chega à Rússia, seu conto de fadas é ameaçado quando os pais de seu marido partem para Nova York para anular o casamento.”
Esse é o 3º filme da Sean Baker que eu vejo e descobri por acaso que sou um grande fã dele. Projeto Flórida (2017) e Red Rocket (2021) são filmes que possuem a alma independente que mostra um cotidiano simples, mas com muito poder. Anora não é diferente dos outros dois. O cotidiano faz parte de seus personagens e ver Ani no seu trabalho nos primeiros minutos do longa já nos dá um rumo para onde tudo vai. Quando ela conhece Ivan, uma sensação de conto de fada surge e lembra até mesmo filmes clássicos como Uma Linda Mulher (1990). Esse é o cerne do sonho americano. Uma menina pobre que alcança a riqueza em um piscar dos olhos. Essa é a impressão que dá em seus primeiros momentos, até que o roteiro dá um tapa na nossa cara e vira tudo de cabeça para baixo.
A realidade não demora para aparecer e ela vem com uma sequência insana dentro da mansão de Ivan. São pelos menos uns 20 minutos de gritaria, confusão e comédia que vai girar com toda sua expectativa. Anora não é fácil e quando a prendem duas sensações chegaram até a mim: a primeira foi de pura comédia física que me fez rir alto no cinema, a outra sensação é mais pesada. Vê-la sendo amarrada e dominada por caras que ela nunca viu na vida nos deixa um pouco incomodados. Por mais que vemos que a intenção dos homens não é de fazer o mal com ela. O tom de comédia deve ser para aliviar essa segunda tensão. Por mais bizarro que tudo pareça, esse novo grupo de personagens que acabaram de se conhecer vão ditar o ritmo do longa nos dando muita comédia e drama na medida.
Nesse segundo ato conhecemos o personagem de Igor (Yura Borisov). Ele começa como um capanga e vai crescendo devagar. Seu apreço por Anora vai se tornando respeito conforme vai passando a projeção e algo bonito vai nascendo daí. Quase todas as vezes que a Anora aparece em uma cena, ele também está ali. Ele quase vira uma sombra dela. O cara que estava segurando ela com força para não fugir acaba virando o seu maior protetor. Eles se identificam de certa forma pois estão na mesma classe. Isso tudo culmina em uma cena final que é magistral.
Li em uma entrevista que nem Mikey Madison (Era Uma Vez em… Hollywood) nem Sean Baker gostam de explicar esse final. Fica aberto para nós que estamos assistindo. Ela é poderosa demais e mesmo sem diálogo conseguimos notar sentimentos ali. O sexo faz parte da narrativa e o beijo não correspondido seguido de um choro que dói a alma pode resumir tudo que acabamos de ver. É algo poético que não necessariamente possui um significado, mas que é poderoso o suficiente para empatizarmos com Anora e sentir tudo o que aconteceu no decorrer das últimas duas horas. O silêncio incomoda, mas se torna algo maior quando os créditos começam a subir.
Anora é um belo filme que diverte e que nos faz pensar. Entendo o seu sucesso todo pela mídia especializada e prevejo um estranhamento do espectador comum. Muitas cenas de sexo podem incomodar os mais conservadores, mas ajuda a contar a história dessa bela personagem. Mikey Madison foi uma escolha perfeita e ela está exuberante em tela. Impossível não se apaixonar por ela, até mesmo quando ela solta mil palavrões em questão de segundos.