A Tragédia de Macbeth

Este é o primeiro projeto solo de Joel Coen, que dirigiu vários filmes, alguns inclusive premiados, em parceria com o irmão Ethan (Onde Os Fracos Não Tem Vez). A trama é velha conhecida do público já que o longa é baseado na obra de William Shakespeare escrita em meados de 1600, Macbeth. A peça fazia uma crítica aos monarcas capazes de atos tirânicos e vilanescos para alcançar e manter o trono.  Nesta versão pouco importa a história, é muito mais sobre a forma que o diretor escolheu para fazer o filme que para alguns parecerá uma obra de arte cheia de homenagens e referências, para outros, soara pretencioso.

Sinopse: ” A trama segue a história do lorde Macbeth ao voltar de uma guerra. No meio do caminho, três bruxas o abordam e falam sobre sua visão de que ele será o próximo rei da Escócia. Ao contar a notícia para sua esposa, eles planejam o assassinato do rei atual do país e assim garantir o reinado de Macbeth.”


Escolha assertiva foi escalar o maravilhoso ator e diretor Denzel Washington (Dia de Treinamento) para protagonizar o filme ao lado da premiada atriz e esposa de Coen, Frances McDormand (Fargo). Neste tipo de produção teatralizada sem grandes efeitos especiais o foco acaba caindo sobre os atores que tem chance de brilhar, não é à toa que Denzel recebeu indicação ao Oscar por este filme.

Joel optou por filar o longa em formato 3×4 e fazê-lo todo em sépia, não só criando um clima de passado (já que é uma história antiga), como também fazendo lembrar o genial diretor alemão Ingmar Bergman. Aliás, a referência ao cineasta alemão vai além da cor de filmagem, são inseridos personagens enigmáticos e sobrenaturais que mais parecem entidades como Bergman fez em seu mais famoso trabalho “O Sétimo Selo” de 1957.

Ponto fraco do longa foi não aproveitar mais a personagem de Lady Macbeth e suas mãos sujas de sangue. Frances McDormand faz monólogos brilhantes na trama quando dada oportunidade, porém por sua personagem ser uma das forças motrizes da história e cérebro manipulador por trás das atitudes do marido, poderia ter recebido mais tempo em tela.

Muitos conservadores podem questionar a escolha de Coen ao escalar um homem negro para interpretar um monarca já que naquela época isso seria impossível. Porém, vale lembrar que em 1449 as peças teatrais contavam até mesmo com atores fazendo papeis femininos, e milhões de vezes na história do cinema, homens brancos interpretaram negros, latinos e asiáticos até mesmo de forma pejorativa. A escalação de Denzel além de assertiva pelo gabarito do ator fica também como reparação histórica.