A Esposa

“A Esposa” se mascara de filme corriqueiro e nos surpreende ao mostrar de forma minimalista, os dramas, conflitos e as injustiças que muitas vezes sofre uma mulher. Na trama vamos sendo apresentados à vários personagens de forma en passant que depois são esmiuçados.  É muito difícil fazer um filme que se passa em dois espaços temporais diferentes sem incomodar o espectador. Felizmente, o diretor Björn Runge  conseguiu!

Nós temos de forma central, a figura da esposa e matriarca da família, brilhantemente interpretada por Glenn Close. Ela que inicialmente nos é mostrada como a “grande mulher atrás de um grande homem”, a esposa profissional que cuida da casa, dos filhos e do marido para que ele, o artista, possa ter sucesso em sua profissão. Já de início damos de cara com Joe Castleman (Jonathan Pryce) sendo indicado ao Nobel de literatura, realizando o sonho de qualquer escritor.

O personagem de Pryce (Game of Thrones) vai nos causando uma certa antipatia que é construída aos poucos. Ele é um escritor de sucesso, cheio de soberba e extremamente dependente da esposa. Quando ela não está por perto parece que ele nem vai sobreviver.  Mesmo com suas estranhezas, ele nos parece um marido afetuoso, apaixonado e agradecido. Só depois ele vai mostrando quem realmente é.

Vamos descobrindo como os protagonistas se conheceram. Um professor e uma aluna ávida por escrever. Para mim, um dos pontos mais significantes da história é quando Joe diz a sua promissora pupila que ela tem que se aprofundar nos personagens da história que está escrevendo. Ela refuta dizendo que a esposa de sua história é para ser secundária e distante, mas ele insiste que por traz de todo mundo existem sonhos perdidos, desejos e etc. Que brilhante analogia entre este momento e a mulher que ela será no futuro.

A grande beleza do filme está nas analogias e metáforas literárias que podem passar despercebidas para os mais desatentos. Temos alguns enormes plottwists que depois de descobertos, nos dão vontade de assistir tudo de novo, só para podermos ter uma percepção diferente de muito do que foi mostrado.

O longa me remeteu logo a outro trabalho de Glenn Close, “Albert Nobs” (2012). Em “A Esposa”, temos uma jovem talentosa que desiste de seus sonhos por acreditar que uma mulher nunca faria sucesso, que os homens que controlam a indústria literária nunca a deixariam ser grande. Em seu trabalho anterior, temos uma mulher no século 19 que não consegue emprego e precisa se passar por homem para sobreviver. Obras assim são importantíssimas para que nós mulheres sejamos ouvidas e tenhamos chances reais, iguais as dos homens. Obrigada, Glenn Close, por estes presentes. Seu Globo de Ouro foi merecidíssimo.