Oeste Outra Vez

Oeste Outra Vez é um filme brasileiro de 2024 que estreou em nossos cinemas em março deste ano e que agora se encontra no catálogo da Globoplay. Antes dessa estreia, ele foi um dos grandes destaques do Festival de Gramado de 2024, conquistando o cobiçado Troféu Kikito de Melhor Filme. Além disso, o filme também levou os prêmios de Melhor Fotografia (André Xará Carvalheira) e Melhor Ator Coadjuvante (Rodger Rogério). O longa, um faroeste brasileiro, aborda temas como masculinidade tóxica, crises existenciais e a violência decorrente da incapacidade masculina de lidar com suas próprias fragilidades.

Sinopse: “No coração do sertão goiano, Oeste Outra Vez mergulha na vida de homens rústicos e emocionalmente frágeis que, constantemente abandonados pelas mulheres que amam, veem-se presos em um ciclo de solidão e amargura. Essa desilusão os impulsiona a uma espiral de violência, onde a incapacidade de lidar com suas próprias vulnerabilidades os leva a confrontos brutais. Em um cenário de honra e desespero, o filme expõe as cicatrizes profundas de suas perdas e desilusões, revelando a dura realidade de uma masculinidade em crise em meio ao árido sertão.”

Confesso que, à primeira vista, não gostei do filme. Pareceu-me apenas mais um sobre homens que se consideram valentões e preferem resolver tudo com armas. Somente após o término do filme é que as coisas começaram a fazer sentido. O ambiente de faroeste, ambientado no árido sertão de Goiás, serve como um belo pano de fundo para essa história. Tudo remete a esse gênero: a temática, os duelos, a paisagem desértica. No entanto, estamos no Brasil, e nada do que vemos aqui é romântico o suficiente para nos remeter ao que o cinema norte-americano já produziu. A selvageria é cometida por motivos pífios e por indivíduos emocionalmente frágeis.

A ausência feminina na película evidencia ainda mais a loucura desses homens, que chegam a se matar por um amor não correspondido. Todos os personagens vivem ou já viveram uma história similar, e, ironicamente, o único que demonstra maturidade é justamente um dos matadores de aluguel. A loucura desse microuniverso é muito distante da nossa realidade cotidiana, mas me parece altamente plausível. A fragilidade masculina, incapaz de lidar com a rejeição, leva-os a decisões burras e erráticas. A ausência de um diálogo maduro e civilizado é notável, resultando apenas na lei da selva, onde pessoas fracas preferem resolver tudo na ponta da faca.

Inicialmente, a falta de diálogos e a predominância do silêncio me incomodaram. Sempre prefiro cortes e diálogos dinâmicos, características ausentes aqui. Contudo, essa narrativa é precisa para nos imergir nesse ambiente, transmitindo uma sensação de isolamento e escassez. A dificuldade de expressão dos personagens aflige não só o espectador, mas também os próprios personagens, que, pela falta de diálogo, preferem se matar entre si. A trilha sonora, com músicas de “dor de cotovelo” regadas a muita cachaça e a típica sinuca de beira de estrada, completa essa atmosfera.

Oeste Outra Vez não é um filme fácil de absorver. Eu mesmo não gostei de primeira. Só o compreendi após o seu desfecho. Muitas reflexões podem ser extraídas dele, e se eu pensar mais um pouco, é provável que encontre outros pontos que ainda não identifiquei. Isso confere uma grande riqueza de assuntos, mesmo que, à primeira vista, o longa pareça não oferecer nada. Acho isso brilhante. Para alguns, ele já é uma das melhores obras nacionais do ano. É uma pena que poucos o verão e lhe darão o valor que merece.