Sombras no Deserto
Sombras no Deserto é um terror histórico que vem causando um certo burburinho. O filme é baseado em um evangelho apócrifo, um texto religioso que se refere à vida de Jesus, mas que não foi incluído no cânone do Novo Testamento. A história explora a infância de uma figura messiânica em um contexto bastante tenebroso. O trabalho cinematográfico foca no medo e na fé em um cenário do Egito Antigo. A produção busca se afastar das narrativas conhecidas e explora mitos menos convencionais. Dirigido por Lotfy Nathan, o longa conta com um bom elenco, incluindo Nicolas Cage, FKA Twigs e Noah Jupe, que estrelam esta produção franco-americana.
Sinopse: “Em uma versão alternativa e obscura do passado, uma família tenta se esconder no Egito Antigo. O Carpinteiro (Nicolas Cage), sua esposa (FKA Twigs) e o Menino (Noah Jupe) buscam fugir de um passado perigoso e misterioso. No entanto, o Menino possui um poder divino que não pode ser contido ou explicado. Essa força incontrolável coloca a família em constante risco de exposição e ataque. Eles são caçados por uma figura tenebrosa e implacável, o Acusador da Luz (Isla Johnston). O filme mergulha em uma batalha espiritual intensa no meio de um deserto árido e explora o terror da fé e o peso da sobrevivência. É uma reinterpretação angustiante de uma história milenar sob a perspectiva do horror.”
Devo dizer que este filme me chamou a atenção por sua premissa que envolve terror e contos bíblicos. É como se nada fosse romantizado e a luta entre o bem e o mal fosse pior do que poderíamos imaginar. Ele explora temas de fé, profecia e figuras divinas e históricas de uma forma bem sombria. A reescritura de personas famosas de uma forma crua se torna um bom material para o roteiro trabalhar. O sagrado acaba deturpado e somos testemunhas de uma luta interna de uma criança destinada a feitos divinos, com dúvidas sobre quem ele seria de verdade e qual o seu papel real neste mundo com tantas crueldades visíveis.
Essa deturpação da figura divina, tão conhecida por todos, vai trazer controvérsias e reações negativas à obra. O Evangelho da Infância de Tomé, que foi descartado pela Igreja e que mostra Jesus criança de uma forma nada convencional, pode ser visto como blasfêmia entre os mais religiosos. Afinal, nosso protagonista não se mostra um ser perfeito, e sim, uma figura humana especial que não entende direito o seu propósito. A luta entre a luz e as trevas se intensifica a ponto de vermos momentos heréticos até que O Menino entende realmente quem é. O gênero terror se mostra bastante apropriado para mostrar tais questões e o clima pesado e denso é passado com naturalidade para o público, deixando-nos inquietos com alguns elementos gráficos bem chocantes.
A força deste filme reside na visão do diretor e roteirista Lotfy Nathan, que o guia com uma atmosfera de terror psicológico constante. Nathan utiliza o Egito Antigo como um pano de fundo árido e opressor, e a vastidão do deserto amplifica a desolação da família fugitiva. Ele transmite a gravidade do pai protetor, atormentado por um segredo perigoso. Seu contraponto é Noah Jupe, que encarna O Menino. Jupe equilibra a inocência infantil com um poder divino e aterrorizante. Essa combinação de direção atmosférica, ambientação histórica marcante e o peso das atuações centrais define a experiência dramática e tenebrosa do longa.
Sombras no Deserto é um bom filme de terror, mas entendo desde já o motivo que o fará ser odiado. A premissa é corajosa e o conceito narrativo me parece bastante original. Contra ele, pesa o fato de ser denso demais, e o ritmo pode ser considerado lento para a maioria das pessoas. Sua provável heresia será jogada contra ele, e isso pode afastar um grande público, além de o filme não possuir sustos, como é característico do gênero, mesmo compensando no clima pesado. Indico para os fãs de horror elevado que o verão mais como arte do que uma crítica velada.
