Wonderland
Vir aqui em pleno ano de 2024 e dizer que o cinema sul-coreano é bom, é chover torrencialmente no molhado. Lógico que nem tudo chega a ser uma obra-prima. Tem também aqueles bem menores que apesar de não serem exatamente tão bons, ainda nos dão algo para se pensar e até para conversar em uma possível roda com os amigos. Wonderland está classificado nesse último e embora seja mediano, uma carga emocional chega ao mesmo tempo em que um certo debate filosófico também dá as caras.
Sinopse: “Uma jovem mulher e uma mãe buscam entender o significado da realidade e da humanidade, usando uma inteligência artificial que permite conversar com os mortos.”
Já tem um bom tempo em que deixei de ver trailer e sinopse de algum filme que eu vá ver. A surpresa acaba sendo recompensadora na maioria das vezes. Em caso de Wonderland, não saber absolutamente nada dá uma certa confusão mental. Tudo se torna bastante embolado na parte inicial e aos poucos vai começando a fazer sentido. Demorei um pouco para entender o que estava acontecendo de verdade. Até mesmo quando cantei a real, fiquei na dúvida se era isso mesmo.
Esse sentimento de confusão também se dá devido a ausência de um protagonismo claro. Em ter que ficar pulando de núcleo em núcleo, o entendimento vai se retardando mais. Isso também dá uma sensação grande de que estou vendo uma novela compilada em um pouco menos de 2 horas. Não chega a ser contos separados, mas vemos como cada caso de Wonderland pode ser diferente. É através de cada experiência particular entre os personagens que o debate pode vir. Nem é tão grande, mas quando falamos de tecnologias futurísticas a ética pode ser implementada de diversas formas e é nisso que reside o brilho desse longa.
Esse filme facilmente poderia ser um episódio bem elaborado de Black Mirror. E se na hora de nossa morte uma empresa fizesse uma cópia de IA de você? Não fisicamente, mas se ficasse armazenada em um aplicativo de celular onde você pode conversar a hora que quiser com essa pessoa? É bizarro. No longa vemos isso funcionando de uma forma boa e até interessante, mas disso é que começa a vir questionamentos. Dessa forma, quem fica não consegue muito bem seguir a vida e um embate ético surge. Isso pode ajudar um pouco com a total perda de alguém, porém quebra o ciclo da vida. Tudo isso faz parte de um amadurecimento humano normal. Manter a pessoa que já morreu ali, pode soar estranho e ruim com o passar do tempo.
Esse longa ainda nos dá tempo para se emocionar. Temos momentos finais bem emocionantes e bem a moda da Coreia do Sul. Um melodrama básico retirado de folhetim que daria inveja aos nossos noveleiros de plantão. Mas também é nesse momento que o filme se perde um pouco. Ao tentar fazer com que o amor seja maior do que qualquer coisa, acaba criando uma anomalia no sistema e não existe nenhuma explicação plausível para isso. Mas ok, dá para passar um pano e só aceitar o que estão te oferecendo. Dessa forma também funciona.
Wonderland pode ser uma boa opção para os amantes de dorama e de uma boa ficção científica. Não é maravilhoso, mas possui seus momentos. Começou confuso para mim e aos poucos fui me adaptando a ele. Da metade para o final ele dá uma engrenada que nos mantém mais ligados na tela e nos emociona em seus momentos finais. Resumindo, essa é uma obra para se ver de forma despretensiosa. Bom sem ser espetacular.