Piano de Família

Piano de Família é um dos mais novos filmes da Netflix e, felizmente, não traz um roteiro que parece que foi feito por uma IA. O longa é baseado na peça teatral The Piano Lesson de 1987 criada por August Wilson. Estrelado por um grande elenco e produzido por Denzel Washignton (Gladiador II) temos uma história sobre o legado de uma família, e o que elas devem fazer com isso. Malcom Washington, filho de Denzel, marca sua estreia na direção de um longa-metragem e coescreve esse filme, que é minimamente interessante.

Sinopse: “Um piano herdado gera um conflito familiar feroz. De um lado, o irmão que quer vendê-lo; do outro, a irmã que se recusa a abrir mão da relíquia. No calor da disputa, verdades sombrias vêm à tona, revelando como o passado é visto de maneiras diferentes e quem realmente tem o poder de definir o legado de uma família.”

Não achei essa história fácil. É muito diálogo e fiquei confuso com o papel de cada membro familiar por ali. Assuntos são abordados e me fez pensar se tinha perdido alguma coisa. Nomes são lembrados e não fazia ideia de quem eram. O piano é uma relíquia familiar, mas não entendia nem um pouco do porque disso. Ele vai se desenrolando assim por bastante tempo até que as respostas começam a vir. As lacunas de dúvidas vão se preenchendo conforme as perguntas que ia fazendo na minha cabeça iam sendo respondidas aos poucos. Essa forma de narrativa é muito perigosa, mas foi se tornando muito boa conforme a metragem foi passando.

Por ser uma adaptação de uma peça teatral, 90% do longa se passa dentro de um único cenário: a casa de Doaker (Samuel L. Jackson). Ele é nosso anfitrião, mas está longe de ser o protagonista de fato. Essa missão cabe a John David Washington (Tenet) que faz o Boy Willie e a Danielle Deadwyler (Till: A Busca por Justiça) que interpreta Berniece. A trama gira no desejo dos dois. Enquanto ele quer vender o piano, ela quer mantê-lo ali imóvel sem ninguém mexer. Muitos diálogos surgem dos dois e se piscar o olho acaba perdendo qualquer informação que pode ser importante para a história.

Com muitos diálogos reveladores começamos a notar que estamos falando de uma história que fala sobre legado e sobre fantasmas do passado. O piano tem a sua história mítica familiar e de certa forma os dois personagens centrais possuem bons motivos para com ele. Os fantasmas no caso deixam de ser uma metáfora para se tornarem algo mais concreto. Uma alma angustiada permanece atrás do que ela acha que é seu por direito, enquanto alguns ancestrais dessa família estão com parte de suas almas incrustadas em seus talhamentos. Temos um final inesperado e forte que resume tudo isso que acabei de falar.

Piano de Família não conseguiu me tirar emoções fortes, mas sem dúvidas que é um belo filme. Tecnicamente falando é muito bom e os atores dão um show de interpretação, mas confesso que não sei o que senti após tê-lo visto. Um drama familiar com uma pequena pitada sobrenatural me deixou um pouco confuso. A metáfora se estendeu demais para algo concreto e o seu final pode se tornar confuso em relação a emoções exploradas nessa jornada. Tudo acaba bem, mas a dúvida ficou em minha cabeça mesmo ao fim da projeção.