Ninguém Sai Vivo Daqui

Ninguém Sai Vivo Daqui é aquele tipo de filme que te deixa triste como ser humano. Pessoas eram trancafiadas em um manicômio muitas vezes só por serem diferentes do padrão em um país e em um século onde o machismo estruturado é que dava as cartas. Embora vejamos muitas barbáries no nosso dia a dia, olhar pra trás mostra que conseguimos evoluir um pouco. Mesmo que ainda falte muita coisa pela frente. Travamos uma batalha diária contra injustiças e preconceitos. Esse filme está aqui para que lembremos das atrocidades e que esse tipo de coisa não se repita nunca mais.

Sinopse: “A jovem Elisa (Fernanda Marques) é internada a força pelo seu próprio pai no hospital psiquiátrico Colonia, um lugar onde aqueles que não se conformavam com as normas da sociedade, ou com a percepção que a sua família tinha dela, eram presos, torturados e mortos. O motivo que o pai de Elisa teve para interná-la foi por conta de ter ficado grávida de seu namorado por volta dos anos 70. O lugar é hostil e nada agradável, após sofrer diversos abusos, Elisa, e outros colegas, que também foram internados injustamente, lutarão com toda a força que puderem pela sua liberdade, para fugirem daquele hospício infernal.”

O longa é baseado no livro Holocausto Brasileiro de Daniela Arbex. No livro a autora entrevista ex funcionários e ex pacientes e nos dá um panorama do que foi esse genocídio ocorrido através dos anos. Estima-se mais de 60 mil mortes entre o período de 1903 até 1980. É muita morte atribuída a um lugar onde, teoricamente, está ali para ajudar pessoas. Apesar de ser baseado no livro que conta com muitos fatos verídicos, a trama principal é ficcional. Sendo escolhida uma personagem para nos mostrar como era a vida nesse lugar infernal.

A fotografia toda em preto e branco não é a toa. Ela está ali principalmente porque nesse mundo nem existe as cores. A vida de todos ali presos é isso: sem graça e sem vida. No início do longa nossa protagonista é colocada dentro de um vagão escuro com destino a esse hospital Colônia. Logo notamos que ela não parece ter nenhum transtorno e as coisas começam a fazer sentido quando entendemos sua condição e o verdadeiro motivo por estar ali. É revoltante, e certamente deve ter acontecido muito.

No meio desse inferno, tentam colocar alguns elementos que suavizam tudo. Não de uma forma que passe pano para a situação, mas para tentar mostrar que nem tudo o que acontece ali é pura maldade. O caso comovente de uma das pacientes que estava há anos ali e é salva por seu filho que ela nunca tinha conhecido emociona. Além disso, temos uma das funcionárias, que apesar de tudo, tenta ajudar alguns pacientes da forma que pode. Isso ajuda a nos mostrar que em meio ao inferno, ainda acontecem coisas boas.

Esses são apenas pequenos alívios que quebram o clima pesado. Além do clima hostil do lugar, ainda temos a figura de um vilão clássico vivido pelo ator Augusto Madeira (Bingo: O rei das Manhã). Ele é a figura do mal materializada e graças a isso temos um bom clímax. O seu final nos dá uma sensação de justiça, ao mesmo tempo que tudo poderia ter sido evitado caso houvesse um pouco de empatia e menos machismo estrutural. Esse é um bom filme que mostra uma das vergonhas de nossa história. Espero que fique marcado por um bom tempo na mente de todos que o virem.